7.4 A Imigração e as cidades
As cidades brasileiras do Sul e Sudeste, algumas mais, outras menos, refletiram essa revolução étnico-demográfica desde os primeiros anos da República, tornando-se locais fundamentais de experiências transculturais cosmopolitas e centros agregadores de cada grupo étnico e nacional imigrado no país.
Em 1920, 2/3 da população da cidade de São Paulo eram compostos pelos imigrantes e seus filhos (35% eram estrangeiros natos, que entre 1890 e 1910 chegaram a compor, por diversos anos, mais da metade da população paulistana). A cidade do Rio de Janeiro tinha mais de 1/4 de estrangeiros, Porto Alegre 12%.
Também as principais cidades do Norte contavam com uma população imigrada (em Recife mais de 4%, por exemplo). Os embates étnicos foram certamente inferiores aos que tanto caracterizaram as cidades estadunidenses, mas não faltaram tensões, sobretudo nos anos iniciais da explosão urbana. Altas e súbitas concentrações de estrangeiros às vezes criaram atritos entre o governo brasileiro e os governos dos países de onde eles provinham. Se a comum origem mediterrânea e latina da maior parte dos imigrantes atenuou conflitos de origem étnica entre eles e com as autoridades brasileiras, mais frequente foi o revestimento étnico de embates que tinham outras motivações, políticas, de classe ou intraclasse. Apesar da história e de muitos elementos culturais amplamente Compartilhados, o grupo europeu mais confrontado tanto pela população como pela elite brasileira foi o português.
Particularmente fortes foram os atritos entre afro-descendentes e imigrantes, sobretudo quando esses conflitos eram exacerbados pela luta no mercado de trabalho. Nas cidades onde os brancos prevaleceram esmagadoramente, como em São Paulo, os conflitos foram menos explícitos (mas não os atos de racismo), diferentemente de onde a população negra era muito consistente ou majoritária, como na capital federal e nas cidades mineiras.
No âmbito dos estrangeiros, quando ocorriam dissídios, estes foram mais comuns entre portugueses, de um lado, e italianos e espanhóis, de outro, em São Paulo, Minas e Rio; e entre alemães e italianos, ou destes com os eslavos nos estados sulinos. As comunidades estrangeiras eram também divididas internamente, sobretudo os italianos e espanhóis, caracterizados por fortes e contrastantes regionalismos, mas mais frequentemente por diferenças de classe.
Referências
LACERDA, Antônio Corrêa. Economia Brasileira, Saraiva, São Paulo, de 2011.
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