segunda-feira, 12 de março de 2018

Um olhar acerca dos imigrantes no Brasil

Um olhar acerca dos imigrantes no Brasil

A imigração propriamente dita verificou-se a partir de 1808, vésperas da independência, quando instalou-se um permanente fluxo de europeus para o Brasil, que se acentuou com a fundação da colônia de Nova Friburgo, na província do Rio de Janeiro, em 1818, e a de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, em 1824. Dois mil suíços e mil alemães radicaram-se no Brasil nessa época, incentivados pela abertura dos portos às nações amigas. Outras tentativas de assentar irlandeses e alemães, especialmente no Nordeste, fracassaram completamente. Apesar de autorizada a concessão de terras a estrangeiros, o latifúndio impedia a implantação da pequena propriedade rural e a escravidão obstaculizava o trabalho livre assalariado. Na caracterização do processo de imigração no Brasil encontram-se três períodos que correspondem respectivamente ao auge, ao declínio e à extinção da escravidão. O primeiro período vai de 1808, quando era livre a importação de africanos, até 1850, quando decretou-se a proibição do tráfico. De 1850 a 1888, o segundo período é marcado por medidas progressivas de extinção da escravatura (Lei do Ventre Livre, Lei dos Sexagenários, alforrias e, finalmente, a Lei Áurea), em decorrência do que as correntes migratórias passaram a se dirigir para o Brasil, sobretudo para as áreas onde era menos importante o braço escravo. O terceiro período, que durou até meados do século XX, começou em 1888, quando, extinta a escravidão, o trabalho livre ganhou expressão social e a imigração cresceu notavelmente, de preferência para o Sul, mas também em São Paulo, onde até então a lavoura cafeeira se baseava no trabalho escravo. Após a abolição, em apenas dez anos (de 1890 a 1900) entraram no Brasil mais de 1,4 milhão de imigrantes, o dobro do número de entradas nos oitenta anos anteriores (1808-1888). Acentua-se também a diversificação por nacionalidades das correntes migratórias, fato que já ocorria nos últimos anos do período anterior. No século XX, o fluxo migratório apresentou irregularidades, em decorrência de fatores externos -- as duas guerras mundiais, a recuperação europeia no pós-guerra, a crise nipônica -- e, igualmente, devido a fatores internos. No começo do século XX, por exemplo, assinalou-se em São Paulo uma saída de imigrantes, sobretudo italianos, para a Argentina. Na mesma época verifica-se o início da imigração nipônica (japonesa), que alcançaria, em cinquenta anos, grande significação. No recenseamento de 1950, os japoneses constituíam a quarta colônia no Brasil em número de imigrantes, com 10,6% dos estrangeiros recenseados.
7.1 Distribuição do imigrante
Distinguem-se dois tipos de distribuição do imigrante no país, com efeitos nos processos de assimilação. Pode-se chamar o: • primeiro tipo de "concentração", em que os imigrantes se localizam em colônias, como no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Nesse caso, os imigrantes não mantêm contato, nos primeiros tempos, com os nacionais, mas a aproximação ocorre à medida que a colonização cresce e surge a necessidade de comercialização dos produtos da colônia. • O segundo tipo, que se pode chamar de "dispersão", ocorreu nas fazendas de café de São Paulo e nas cidades, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo. Nessas áreas, o imigrante, desde a chegada, mantinha-se em contato com a população nacional, o que facilitava sua assimilação. Os principais grupos de imigrantes no Brasil são portugueses, italianos, espanhóis, alemães e japoneses, que representam mais de oitenta por cento do total. Até o fim do século XX, os portugueses aparecem como grupo dominante, com mais de trinta por cento, o que é natural, dada sua afinidade com a população brasileira. São os italianos, em seguida, o grupo que tem maior participação no processo migratório, com quase trinta por cento do total, concentrados, sobretudo no estado de São Paulo, onde se encontra a maior colônia italiana do país. Seguem-se os espanhóis, com mais de dez por cento, os alemães, com mais de cinco, e os japoneses, com quase cinco por cento do total de imigrantes.
7.2 Contribuição do imigrante
No processo de urbanização, assinala-se a contribuição do imigrante, ora com a transformação de antigos núcleos em cidades (São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias, Farroupilha, Itajaí, Brusque, Joinville, Santa Felicidade etc.), ora com sua presença em atividades urbanas de comércio ou de serviços, com a venda ambulante, nas ruas, como se deu em São Paulo e no Rio de Janeiro. Outras colônias fundadas em vários pontos do Brasil ao longo do século XIX se transformaram em importantes centros urbanos. É o caso de Holambra SP, criada pelos holandeses; de Blumenau SC, estabelecida por imigrantes alemães liderados pelo médico Hermann Blumenau; e de Americana SP, originalmente formada por confederados emigrados do sul dos Estados Unidos em consequência da guerra de secessão. Imigrantes alemães se radicaram também em Minas Gerais, nos atuais municípios de Teófilo Otoni e Juiz de Fora, e no Espírito Santo, onde hoje é o município de Santa Teresa. Em todas as colônias, ressalta igualmente o papel desempenhado pelo imigrante como introdutor de técnicas e atividades que se difundiram em torno das colônias. Ao imigrante devem-se ainda outras contribuições em diferentes setores da atividade brasileira. Uma das mais significativas apresenta-se no processo de industrialização dos estados da região Sul do país, onde o artesanato rural nas colônias cresceu até transformar-se em pequena ou média indústria. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, imigrantes enriquecidos contribuíram com a aplicação de capitais nos setores produtivos. A contribuição dos portugueses merece destaque especial, pois sua presença constante assegurou a continuidade de valores que foram básicos na formação da cultura brasileira. Os franceses influíram nas artes, literatura, educação e nos hábitos sociais, além dos jogos hoje incorporados à lúdica infantil. Especialmente em São Paulo, é grande a influência dos italianos na arquitetura. A eles também se deve uma pronunciada influência na culinária e nos costumes, estes traduzidos por uma herança na área religiosa, musical e recreativa. Os alemães contribuíram na indústria com várias atividades e, na agricultura, trouxeram o cultivo do centeio e da alfafa. Os japoneses trouxeram a soja, bem como a cultura e o uso de legumes e verduras. Os libaneses e outros árabes divulgaram no Brasil sua rica culinária.
7.3 A Imigração Urbana
Se o principal foco de atração e fluxo imigratório no Brasil teve características explicitamente rurais, a imigração urbana não pode ser desconsiderada, pois tornou-se evidente, desde o início da imigração de massa, que o crescimento das cidades em todas as regiões do país interessadas no fenômeno imigratório estava ligado à vinda de população estrangeira. A imigração urbana foi basicamente de dois tipos: 1) indireta, como fluxo secundário de estrangeiros provenientes das áreas rurais onde se tinham fixado num primeiro momento; 2) direta, como fluxo primário de imigrantes que logo na entrada se fixavam nas áreas urbanas. A partir dos últimos anos do século XIX, a primeira começou a se realizar concomitantemente à segunda, aumentando progressiva e consideravelmente durante a primeira década do século XX. A imigração indireta foi sobretudo resultado do êxodo de imigrantes insatisfeitos com as condições de trabalho ou em excesso nas áreas rurais de latifúndios e, de forma menor, de estrangeiros dos núcleos coloniais rurais, por motivos semelhantes. A cidade proporcionava também oportunidades de ascensão social, e maiores possibilidades para a educação e a saúde. Não poucas vezes o retorno à pátria de origem, saindo das áreas rurais brasileiras, passava por um período de trabalho nos centros urbanos.  
7.4 A Imigração e as cidades
As cidades brasileiras do Sul e Sudeste, algumas mais, outras menos, refletiram essa revolução étnico-demográfica desde os primeiros anos da República, tornando-se locais fundamentais de experiências transculturais cosmopolitas e centros agregadores de cada grupo étnico e nacional imigrado no país. Em 1920, 2/3 da população da cidade de São Paulo eram compostos pelos imigrantes e seus filhos (35% eram estrangeiros natos, que entre 1890 e 1910 chegaram a compor, por diversos anos, mais da metade da população paulistana). A cidade do Rio de Janeiro tinha mais de 1/4 de estrangeiros, Porto Alegre 12%. Também as principais cidades do Norte contavam com uma população imigrada (em Recife mais de 4%, por exemplo). Os embates étnicos foram certamente inferiores aos que tanto caracterizaram as cidades estadunidenses, mas não faltaram tensões, sobretudo nos anos iniciais da explosão urbana. Altas e súbitas concentrações de estrangeiros às vezes criaram atritos entre o governo brasileiro e os governos dos países de onde eles provinham. Se a comum origem mediterrânea e latina da maior parte dos imigrantes atenuou conflitos de origem étnica entre eles e com as autoridades brasileiras, mais frequente foi o revestimento étnico de embates que tinham outras motivações, políticas, de classe ou intraclasse. Apesar da história e de muitos elementos culturais amplamente Compartilhados, o grupo europeu mais confrontado tanto pela população como pela elite brasileira foi o português. Particularmente fortes foram os atritos entre afro-descendentes e imigrantes, sobretudo quando esses conflitos eram exacerbados pela luta no mercado de trabalho. Nas cidades onde os brancos prevaleceram esmagadoramente, como em São Paulo, os conflitos foram menos explícitos (mas não os atos de racismo), diferentemente de onde a população negra era muito consistente ou majoritária, como na capital federal e nas cidades mineiras. No âmbito dos estrangeiros, quando ocorriam dissídios, estes foram mais comuns entre portugueses, de um lado, e italianos e espanhóis, de outro, em São Paulo, Minas e Rio; e entre alemães e italianos, ou destes com os eslavos nos estados sulinos. As comunidades estrangeiras eram também divididas internamente, sobretudo os italianos e espanhóis, caracterizados por fortes e contrastantes regionalismos, mas mais frequentemente por diferenças de classe. Referências LACERDA, Antônio Corrêa. Economia Brasileira, Saraiva, São Paulo, de 2011.

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