sexta-feira, 6 de março de 2015

SIMULAÇÃO DE IMPACTO DE UM ASTEROIDE DE 500 KM COM A SUPERFÍCIE TERRESTRE


Em 2013 uma explosão sobre a cidade Russa, localizada na região da Sibéria, denominada Cheliabinsk causou ondas de choque que destruíram edifícios e deixou janelas quebradas. Mais de mil pessoas foram feridas por estilhaços.


Análises de um mineral chamado jadeíta, que estava impregnado em fragmentos recuperados depois da explosão, mostram que o asteroide do qual o meteorito se separou atingiu outro ainda maior a uma velocidade relativa de 4.800 quilômetros por hora. “Este impacto pode tê-lo separado do seu corpo principal e o enviado à Terra”, escreveu o pesquisador-chefe Shin Ozawa, da Universidade de Tohoku, no Japão, em um estudo publicado nesta semana no periódico "Scientific Reports". A descoberta deve esclarecer aos cientistas como um asteroide pode acabar em uma colisão com a Terra. Os cientistas suspeitam que a colisão aconteceu cerca de 290 milhões de anos atrás.


A maior parte do asteroide de 20 metros de largura que brilhou sobre Cheliabinsk, no sudoeste da Sibéria, em 15 de fevereiro de 2013, foi incinerada e virou uma grande bola de fogo, resultado do aquecimento da fricção ao atingir a atmosfera voando a 67,6 mil km/h. Mas muitos fragmentos sobreviveram.

vejam o video em:

O asteroide viajava quase 60 vezes a velocidade do som e explodiu a cerca de 30 km do solo com uma força quase 30 vezes maior que a da bomba atômica lançada pelos Estados Unidos em Hiroshima, no Japão, em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial. A explosão sobre Cheliabinsk causou ondas de choque que destruíram edifícios e deixou janelas quebradas. Mais de mil pessoas foram feridas por estilhaços.

Os cientistas ainda estão analisando fragmentos do asteroide para calcular a sua trajetória exata em direção à Terra. Em um e-mail à Reuters, Ozawa descreveu o meteorito de Cheliabinsk como "um exemplo único".

Então já parou para pensar? como seria o impacto de um asteroide de 500 km de diâmetro em nosso Planeta? Você já se imaginou tendo apenas 48 para morrer? Se você soubesse que um asteróide de 500 km fosse se chocar contra a Terra e que a humanidade teria apenas 48 horas de vida, o que você faria? Se matava antes do mundo acabar? Ficaria com as pessoas que ama? Invadiria um apartamento 01 por andar e realizaria o sonho da casa própria? O que você faria? Brincadeiras a parte, o vídeo é mais do que impressionante, é chocante. Saber que a devastação de um asteróide semelhante a esse não é algo impossível de se acontecer ganha um plus adicional com a trilha musical que casou perfeitamente com a emoção do vídeo.

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Câmeras amadoras e profissionais no mundo todo têm captado a entrada de diversos meteoritos na atmosfera da Terra, um fenômeno absolutamente comum e inofensivo para a humanidade. Esses objetos, pequenos demais, acabam destruídos antes de atingir a superfície, ou caem sem causar muitos estragos, na maioria das vezes. Mas o que aconteceria se um objeto gigantesco, um asteroide errante de grandes proporções, atingisse a Terra? O Discovery Channel criou uma simulação em vídeo de um fenômeno dessa magnitude, que nos últimos dias viralizou na Internet. O resultado, obviamente, seria catastrófico para a humanidade. Na simulação, o objeto atinge o oceano, como descrevem os produtores no próprio vídeo: “Um asteroide com diâmetro de 500 km. Destino: Oceano Pacífico. O impacto arranca a crosta de 10 km da superfície. A onda de choque viaja a velocidades supersônicas. Destroços são espalhados pela órbita da Terra, destruindo a superfície do planeta. A tempestade de fogo engole a Terra, vaporizando toda a vida em seu caminho.”

quarta-feira, 4 de março de 2015

ECONOMIA BRASILEIRA - OS CICLOS ECONÔMICOS


BRASIL - A COLONIA AGRÁRIO-EXPORTADORA

Desde o século XVI, a Península Ibérica despontava como um dos agentes mais dinâmicos do capitalismo comercial. A colônia Brasil, domínio português inserido na empresa mercantil, colonial e escravocrata que caracterizou a expansão ultramarina, figurava como uma das peças centrais do intrincado mosaico criado pelo périplo dos portugueses. Várias Fontes nos ajudam a desvendar essa rica história, na qual a economia ocupa lugar nobre. A acumulação primitiva gerada nas colônias determinou um dos veios mais significativos da acumulação geral do capitalismo. O Brasil participava desse processo como pólo exportador de riquezas para todo o continente europeu, por intermédio de sua Metrópole. Essa marca na formação econômica brasileira viria a constituir a matriz da estrutura colonial do país, que perdurou mesmo após a emancipação política para a forma estado-nação ocorrida no século XIX. Ilustração: “Escravos negros vindos da África” — rugendas — Biblioteca municipal de são Paulo.

AS VIAS DE CONSTITUIÇÃO DO CAPITALISMO

Há três casos particulares de construção do modo de produção capitalista: o caminho clássico, o prussiano e o colonial, que envolvem, nos planos teórico e prático, questões que devem ser respondidas de acordo com as possibilidades reais de cada caso. As mudanças possíveis em cada uma das vias são dadas no itinerário da inserção de cada região no capitalismo mundial. Os países líderes do capitalismo construíram seu desenvolvimento pela via clássica — forma sustentada de realizar a industrialização beneficiando-se dos ganhos da era colonial. Nos séculos XVIII e seguintes, ocorreram transformações político-econômicas a partir das revoluções democrático burguesas. A via prussiana foi seguida pelos países de industrialização retardatária, no século XIX. Marcados pela ausência de processos democráticos de emancipação, esses países conquistaram, no entanto, sua autonomia econômica. Já os países de via colonial somavam ao atraso democrático o econômico. Vale lembrar que existem algumas semelhanças entre o capitalismo de via prussiana e o de via colonial que os afastam da via clássica, colocando-os sob o mesmo manto das formas não clássicas de transição para o capitalismo. Porém, apesar das semelhanças (como a ausência de revoluções democrático-burguesas ou a existência de grandes propriedades de terra), há também diferenças substantivas entre as duas formas: enquanto a via prussiana representou uma passagem do feudalismo para o capitalismo, a via colonial não o fez, pois nasceu inserida no sistema já dominado pelo capital2. Toca-se, portanto, na questão central da forma de propriedade fundiária implementada nas colônias, o latifúndio. Além disso, a forma colonial de construção capitalista criou uma burguesia sem condições de obter autonomia política para seus países e incapaz de contribuir para que eles escapassem dos marcos da dependência colonial, ou seja, da subordinação aos pólos dinâmicos das economias centrais. Em outras palavras, a burguesia dos países de via colonial não realizou nem suas tarefas econômicas, nem as políticas, diferentemente da prussiana, que deixou apenas de realizar suas tarefas políticas.

OBJETIVAÇÃO DA LÓGICA DO CAPITAL E SUA EXPANSÃO

Situada a importância do contexto histórico para entendermos as relações brasileiras com as demais regiões do globo no momento atual, passemos à análise da economia colonial brasileira. Os textos clássicos discutem o tema da ocupação territorial durante a colonização da América com base na divisão entre colônias de povoamento e de exploração. As colônias de povoamento dizem respeito ao estabelecimento definitivo de europeus no Novo Mundo; caracteriza-se, como o próprio nome indica, pelo povoamento, pela busca de um novo lar, por pessoas que procuravam afastar-se de conflitos internos da Europa. No século XI, o continente europeu desenvolvia se comercialmente, tendo alcançado notável situação socioeconômica no século XV, principalmente na Inglaterra. Ocorriam, no entanto, simultaneamente, lutas político-religiosas e transformações econômicas consideráveis, particularmente o fenômeno dos cercamentos. Durante dois séculos, grandes contingentes populacionais migraram para regiões de clima similar ao de seu local de origem, concentrando-se, prioritariamente, na zona temperada. As colônias de exploração centravam-se na produção de gêneros que interessassem ao mercado internacional. A diversidade de condições naturais, em comparação às européias, propiciava a obtenção de gêneros diferentes e atrativos, considerados artigos de luxo, como o açúcar, chamado, então, de “ouro branco”. Tais produtos ofereciam altas taxas de retorno para quem neles investisse. Atraídos por esses estímulos, que eram diferentes daqueles dos colonos da zona temperada, esses ocupantes buscavam enriquecer, para depois usufruir, na Metrópole, a sua nova condição. Seus interesses estavam voltados para o usufruto das vantagens potenciais, porém o esforço físico em ambiente tão inóspito deveria ficar a cargo de outros. Os colonos eram empreendedores, mas raramente trabalhadores propriamente ditos. O sentido último das ações dos donos das novas terras era o comércio, pois, com sua realização, obtinha-se o lucro. Sendo assim, como a princípio as novas descobertas não contemplaram nenhum bem comercializável, a idéia de povoar as terras brasileiras não surgiu de imediato. Entretanto, outras circunstâncias, advindas da disputa de novos aventureiros de além-mar, colocaram a necessidade da ocupação efetiva do solo e a construção de laços para além do habitual estabelecimento de feitorias — forma que assumiram as primeiras possessões portuguesas na África. Foi, portanto, por intermédio das colônias de exploração que o capital comercial se objetivou no Brasil. Inicialmente, o problema a ser resolvido dizia respeito à determinação da natureza dos gêneros que poderiam ser aproveitados no novo território. De imediato, a solução vislumbrada recaiu sobre os produtos naturais, como madeiras, destinadas à construção ou à obtenção de tinturas, cujo exemplo clássico é o pau-brasil. Posteriormente, o extrativismo viria a ser substituído pela agricultura. Sua exploração seria feita em grande escala, gerando unidades monocultoras com elevado número de trabalhadores. A necessidade de mão-de-obra abundante conheceu sua solução definitiva na escravidão africana — o tráfico negreiro viria a ser a solução encontrada dentro das regras da economia política praticada pelo mercantilismo, indo ao encontro das necessidades da acumulação primitiva, que conheceu na empresa mercantil, colonial e escravocrata um dos momentos da construção do modo de produção capitalista.

ASCENSÃO DA BURGUESIA E O PACTO COLONIAL

Inicialmente, durante meio século, o descobrimento das terras nativas pareceu ser um episódio secundário para os portugueses. Enquanto os espanhóis colheram imediatamente os frutos auríferos da conquista — bastava estender a mão e alcançá-los —, os portugueses não tiveram a mesma sorte. Por isso, os principais objetivos da empreitada lusa foram comprometidos: primeiro, não haviam encontrado a almejada passagem para as ricas Índias, centro das especiarias, alvo maior das navegações. Segundo, não desfrutavam as vantagens extrativas de que gozavam os espanhóis. A notícia da existência de riquezas metálicas no Novo Mundo, contudo, espalhava-se pela Europa e fazia aumentar a cobiça em relação ao outro lado do Atlântico. As colônias ibéricas tornavam-se alvos de possíveis invasões européias. Diante de tal quadro, a ocupação efetiva revelava-se prioritária, pois, antes de qualquer outra providência maior, era necessário garantir a posse do território colonial português para além dos próprios interesses mercantis imediatos. Sendo assim, a gênese da nossa civilização ocorreu por pressões políticas das lutas no continente europeu. Os rivais europeus entendiam que os ibéricos poderiam desfrutar somente dos territórios que realmente ocupavam. E não foram poucas as vezes que esse reconhecimento caiu por terra, nas várias invasões ocorridas. Por todos esses motivos, a ocupação tinha de ser realizada, concorrendo com os recursos escassos antes destinados, prioritariamente, ao Oriente. Coube à alta administração lusa encontrar, de forma criativa, os meios produtivos adequados para maximizar as fontes de recursos. Reiteradamente, os diferentes analistas da economia política do mercantilismo sustentam a importância cabal do comércio na transição do feudalismo para o capitalismo e, conseqüentemente, o papel das navegações e dos descobrimentos na aceleração da dinâmica mercantil. Sem dúvida, as trocas mereciam papel de destaque, porém o desenho estaria incompleto se não adicionássemos fatores internos e externos à economia européia que facilitaram a realização dos grandes empreendimentos capitalistas. Como fator externo, deve-se destacar a influência dos árabes, que introduziram novos hábitos, técnicas e conhecimentos gerais no território europeu. Como fatores internos, houve o crescimento da produtividade agrícola e os avanços tecnológicos nas manufaturas, criando, assim, excedentes de alimentos e produtos manufaturados que podiam ser exportados com atrativas taxas de lucro. As feiras (núcleos das primeiras cidades modernas) e as Cruzadas também contribuíram, respectivamente, de forma local e internacional, para desenvolver o sistema econômico nascente. Essas condições estimulavam o comércio de longa distância. O incremento produtivo verificado nas atividades primárias e secundárias da economia, criando uma nova agricultura de escala diferenciada e impulsionando a manufatura, tornou-se pressuposto da expansão ultramarina e da colonização das novas terras. Essa nova realidade fez surgir novos grupos sociais, que se fortaleceram e conheceram sua ascensão política devido à força econômica e financeira das atividades mercantis. Surgiam as grandes Companhias de Comércio, organizadas em monopólios e ligadas ao aparelho de Estado, que estava passando por transição, pois era disputado por grupos de interesses antagônicos: clero, nobreza e a burguesia nascente. Ao mesmo tempo que a nobreza e a Igreja detinham a hegemonia política, dividiam com a burguesia uma legislação que se coadunava com as necessidades das novas atividades econômicas — o comércio e a manufatura. A burguesia se apresentava como contrapeso à monarquia feudal, jogando hábil xadrez na conquista de espaços políticos correspondentes a cada avanço econômico. Classe oprimida pelo despotismo medieval, avançava paulatinamente das comunas urbanas aos governos recém-unificados. A burguesia, constituída nos marcos do capitalismo, viu finalmente seus anseios de classe social serem traduzidos pela economia política do mercantilismo, por meio de uma legislação que era o reflexo dessa política: o Estado absolutista. Ilustração: Típica paisagem do Porto de Dover, Inglaterra na época mercantilista.

PACTO COLONIAL

O pacto colonial foi um dos elementos básicos constituintes da política econômica mercantilista. Consistia basicamente no exclusivismo comercial da Metrópole em relação às suas colônias, subordinando-as por meio de um conjunto de medidas econômicas e políticas. Os representantes locais das nações europeias controlavam as relações comerciais e defendiam os interesses da Coroa e das Companhias de Comércio, organismos de capital misto ou estatal.

Após o período em que prevaleceu a busca por metais preciosos — ou seja, a demanda por maximizar ouro e prata circunscritos às fronteiras nacionais —, cresceu o desejo pelas garantias de sempre obter saldo favorável na balança comercial. Dessa maneira, as exportações de bens foram incentivadas e as importações foram inibidas. Para tanto, os monopólios agiram com firmeza, dado que a regulamentação existente fortalecia essa política econômica, alimentando o pacto colonial nas colônias. Era uma lógica carregada de contradições, pois as medidas beneficiavam alguns setores do capital comercial, prejudicando outros. Essa marca da concorrência capitalista, já presente em germe no nascedouro do sistema, determinaria a política de alianças do poder real com grupos comerciais visando um retorno maior de seus próprios investimentos. Futuramente, na era industrial, a classe comerciante teria de romper todos esses laços que haviam garantido sua ascensão, pois a senda que a fortificara tornar-se-ia uma camisa-de-força. Em razão de seu poder econômico financeiro, a burguesia suportaria essa transição para dar o xeque-mate posteriormente, a partir das revoluções democrático-burguesas da via clássica e das “reformas pelo alto” da via prussiana.

A MARCA DA COLONIZAÇÃO DE EXPLORAÇÃO

Coube ao colonizador sistematizar o pacto colonial nos moldes dos interesses europeus, criando, no solo nativo, alternativas que permitissem auferir o lucro almejado e aproveitar as potencialidades da colônia, transformando-a em produtora efetiva de riquezas. As soluções encontradas — a princípio o extrativismo e mais tarde a plantation de cana-de-açúcar, seguidos da mineração, do renascimento agrícola e da cafeicultura — inscreveram a economia colonial na história metropolitana. As Terras de Vera Cruz consubstanciaram-se em uma inesgotável fonte de recursos, responsável junto à economia do Velho Mundo por um dos veios mais promissores da construção do capitalismo, sobretudo o inglês. A maneira encontrada pelos colonizadores para ocupar a colônia foi a exploração agrícola, superando a mera atividade extrativa realizada segundo os moldes do Oriente. A empresa foi ideada levando em conta todas as dificuldades: era preciso encontrar um produto favorável às novas condições existentes em terras virgens, sem contingente trabalhista respeitável e que gerasse altas taxas de retorno aos seus investidores. Para tal empreitada, a experiência dos portugueses desempenhou papel relevante, pois já praticavam a plantation açucareira nas ilhas do Atlântico. Por isso, já dispunham de conhecimento técnico e de uma indústria fornecedora da infra-estrutura necessária.Com produção em escala, as mercadorias portuguesas conseguiam concorrer com as italianas, a preços baixos, difundindo o hábito de consumo do açúcar. Sem dúvida, o fornecimento do açúcar brasileiro para o mercado europeu tornou-se página importante da era colonial, transformando essa especiaria em um bem de consumo tão importante que passou a interferir até mesmo nos costumes da época. Colaborando para a edificação dessa atividade com sabores lucrativos, contou-se com o capital holandês, uma vez que parte significativa dos investimentos proveio dos Países Baixos. Os batavos integraram as várias etapas, financiaram o comércio e a refinação e participaram da importação de mão-de-obra africana. Vislumbrada a viabilidade da nova empresa, tornou-se mais fácil atrair a atenção dos empreendedores. Desde o início, o problema maior, sem sombra de dúvida, havia sido o suprimento de mão-de-obra; sem esse efetivo, pouco teriam valido a experiência lusa e o capital neerlandês. Como sabemos, a mão-de-obra nativa brasileira, apesar de diversas tentativas, não se apresentou como solução definitiva da questão. A Europa não tinha condições de sofrer grandes sangrias populacionais, principalmente para cumprir esse papel, como vimos nas páginas precedentes. Somente se a paga fosse muito boa, o colono europeu se disporia a trabalhar nos trópicos. Não era o caso, pois a própria acumulação estaria comprometida se um dos fatores essenciais da produção, a força de trabalho, exigisse remuneração elevada. Mesmo a possibilidade de distribuição de terras, como ocorreu no norte dos Estados Unidos, não se mostrava viável. As populações destinadas à zona temperada davam conta dos sacrifícios de receber lotes que careciam de total investimento para dar algum retorno. A união de todos os elementos descritos — técnica de produção, mão-deobra, investimentos, mercado consumidor —, somada à necessidade da ocupação definitiva, tornou o empreendimento um sucesso. Aliados à lógica do capital comercial, foram a marca da colonização, gerando vantagens comparativas que determinaram a opção de ocupar o Brasil e romper a linha do Tratado de Tordesilhas.

A QUESTÃO DA MÃO-DE-OBRA

A acumulação capitalista está centrada no binômio propriedade privada e trabalho. A natureza é a fonte potencial de todos os valores de uso, e o trabalho — a mediação de sua apropriação — é gerador da sociedade. A economia política clássica, desde a sua edificação, preocupou-se em teorizar como essa dinâmica, combinada de forma eficiente, poderia gerar lucros. Na Europa, berço do capitalismo, esses elementos uniram-se por meio de variados desenhos, desde a manufatura até o sistema fabril. A forma “gremial” foi o germe da futura fábrica. O mestre artesão era o proprietário da oficina, das ferramentas e das matérias-primas (que, em alguns casos, eram recebidas no ato da encomenda) e trabalhava com seus jornaleiros. Estes, em troca de aprendizado, moradia e alimentação, ajudavam a fabricar as mercadorias cujo destino era o mercado. As indústrias têxteis desenvolveram-se a partir desse sistema, criando paulatinamente um controle autônomo da produção. Com o crescimento da economia e o desenvolvimento urbano, deu-se a separação crescente do trabalhador de seus meios de produção — terra e ferramentas —, restando-lhe a venda de seu potencial de trabalho como única fonte de subsistência. Os cercamentos constituem um dos elementos históricos mais importantes no processo de acumulação primitiva. Entretanto, o trabalho assalariado — forma clássica do sistema capitalista, pois tornou-se dominante e estendeu-se em vários ramos — não foi a única forma de trabalho presente na história do capitalismo. A escravidão moderna participou ativamente do crescimento das riquezas geradas no período mercantil, seja como pólo acumulativo no tráfico negreiro e no escambo, seja como importante fonte de lucros nas plantations. No caso brasileiro, houve várias tentativas de aproveitamento do gentio. Inicialmente, a mão-de-obra indígena foi utilizada na extração do pau-brasil e depois, timidamente, na lavoura da cana-de-açúcar. Nesta última atividade, os esforços necessários para a compulsão não compensavam a empreitada. Com exceção dos jesuítas, que lograram um real aproveitamento desse contingente produtor local nas suas missões, boa parte dos demais colonizadores resolveu definitivamente suas necessidades de fator trabalho com o uso dos escravos africanos: “(É) A partir do alvará de 29 de março de 1559, dirigido ao capitão da Ilha de São Tomé e ordenando que, à vista de certidão passada pelo governador do Brasil, cada senhor de engenho pudesse resgatar até 120 escravos do Congo, pagando apenas um terço de direitos, que começa a ser menor a penúria de braços africanos na colônia”. No início, registrou-se escassez no fornecimento da mão-de-obra escrava. Somente a partir do final do século XVII, os traficantes — inicialmente portugueses, substituídos por franceses e depois ingleses — atenderiam com maior regularidade à demanda brasileira de escravos. Na análise dos ciclos econômicos do próximo capítulo, demonstraremos a relação entre a acumulação predatória realizada na era colonial e o escravismo, forma de superação dos problemas encontrados pelo colono em relação à força de trabalho.

O CICLO DA CANA-DE-AÇÚCAR

Foram imensas as dificuldades para a implantação da agricultura e de atividades extrativas no período do Brasil Colônia. Para atrair o colono, que deveria superar as dificuldades da zona tropical, era necessário oferecer-lhe grandes propriedades de terra, como recompensa pelo grande sacrifício. Convencidos da necessidade de ocupação das terras brasileiras, os portugueses dividiram-na em lotes, denominados capitanias hereditárias, e deram início à produção agrícola na forma de plantation, como vimos nas páginas precedentes. O Brasil conheceu, então, certo florescimento econômico, mas que não se deu de maneira regular e linear, e sim sob a forma de ciclos econômicos. A teoria econômica afirma que os ciclos são flutuações nas atividades econômicas da era industrial, ou seja, alternância de períodos de expansão e de contração da economia. Tendencialmente, as crises cíclicas ocorrem em intervalos periódicos relativamente constantes. Há diversas explicações para o fenômeno e inúmeras propostas para o enfrentamento da questão. Na história econômica brasileira, o conceito de ciclos econômicos é utilizado para identificar os movimentos de crescimento e declínio das atividades extrativas (ciclo do pau-brasil), da produção agrícola (borracha, cana-de-açúcar, cacau, café) e mineradora (ouro).
Ilustração: O Engenho, Rugendas

A PRODUÇÃO AÇUCAREIRA

O processo de mudança da mão-de-obra nativa para a negra ocorreu durante a era colonial. Foi mais rápido na região Nordeste, principalmente na Bahia e em Pernambuco, dois grandes núcleos iniciais da produção açucareira, que demandavam a força de trabalho proveniente da África. Em um segundo estágio viriam os vizinhos do Rio de Janeiro e São Vicente. Ao redor de Pernambuco, a mudança da mão-de-obra estendeu-se tanto nos eixos norte-sul como para o interior. Podemos detectar sua expansão até a fronteira com o Rio Grande do Norte. No mais, só surgiriam pequenos núcleos de menor importância no Maranhão e na foz do Rio Amazonas. No resto do país, a implantação do sistema foi mais lenta. Seu custo fora das zonas nobres do eixo econômico era alto, pois as condições de viagem e os maus tratos impostos aos escravos reduziam seus quadros pela metade, aumentando seu valor. Resolvido o fator trabalho, a monocultura pôde iniciar-se; eram extensas unidades com grande número de braços tocando a produção, sob o olhar ameaçador de um feitor, homem de confiança do proprietário. O engenho, cuja função era produzir açúcar, constituía o centro dessas fazendas. Lá, manipulava se a cana e criava-se o produto final. Com o passar do tempo, o conceito de engenho se estendeu a todas as terras e culturas, tornando-se equivalente a propriedade canavieira. As extensas terras eram ocupadas principalmente com as grandes plantações, mas também com a agricultura de subsistência e pastagens dos animais. Desde a sua implantação, no século XVI, até quase o final do século XVIII, a produção açucareira foi o eixo da economia colonial. O açúcar constituía um produto nobre de exportação, por seu destaque no plano internacional. Até o século XVII, a produção cabocla era líder no mercado mundial, só vindo a perder esse lugar quando entraram no cenário americano as produções concorrentes, realizadas na América Central e nas Antilhas. Destarte, os produtores locais tiveram de começar a investir em outros produtos. O tabaco baiano não só teve boa receptividade na Europa como cumpria papel similar à aguardente no escambo feito na costa africana. Sintomaticamente, sua decadência se deu à época da proibição do tráfico negreiro, no século XIX. Ainda durante o ciclo açucareiro, Lisboa enfrentaria dificuldades advindas das invasões holandesas na região Nordeste. Com o domínio castelhano sobre a Coroa lusa, durante o século XVII, unindo a Península Ibérica sob um único governo, os neerlandeses tornaram-se inimigos de Portugal e, conseqüentemente, do Brasil. A manutenção dos interesses portugueses na região Nordeste tornou-se mais difícil, sendo garantida na ponta das baionetas. Outro dado que nos aponta a relevância do período em pauta é o aumento territorial brasileiro. A defesa do monopólio açucareiro levou ao alargamento das nossas fronteiras sob o domínio ibérico, com o estímulo ao povoamento de outras faixas de terras, atingindo a região amazônica.

O CICLO DO OURO

O ouro brasileiro provocaria grandes mudanças, que levariam ao esgotamento da primeira fase do açúcar. Contudo, o metal não superaria, em cifras de produção global, o montante de recursos que o açúcar forneceu ao longo da história da colônia. Quando surgiu no palco nacional, porém, fez grande alarde, atraindo todas as atenções locais e internacionais. As demais atividades declinaram diante da importância desse metal. O ouro atraiu para Minas Gerais, junto com as classes dominantes, um contigente populacional carregado pela ilusão do enriquecimento rápido. É verdade que se buscava ouro desde o início da empreitada mercantil. A descoberta imediata desse metal pelos espanhóis sempre havia alimentado a fantasia lusa de que todo o território americano estivesse repleto de jazidas auríferas, e essa esperança permaneceu viva durante dois séculos de exploração. Comprovam-no as várias expedições que, desde o início, tinham se embrenhado mata adentro. Muitos membros dessas empreitadas pagaram com a própria vida a ousadia, pois quase todas se perderam, vítimas dos índios ou da própria natureza. Essas expedições assumiam diversas formas, dentre as quais destacaram-se as bandeiras paulistas, que tinham como objetivo a captura de índios. Foram esses aventureiros que encontraram o ouro mineiro na região das cidades históricas de Minas Gerais. Começou, então, a corrida ao ouro brasileiro, que, durante um século, ocuparia o centro nervoso da economia. A repercussão da descoberta do metal ocasionou um movimento migratório inédito para o Brasil, alterando o perfil populacional, sobretudo pelo surgimento de uma camada média na escala social. A mineração atraiu colonos de menores posses, devido ao tamanho mais modesto das minas brasileiras em relação às das colônias castelhanas. No que diz respeito à importância dessa migração, Furtado afirma: “Não se conhecem dados precisos sobre o volume da corrente emigratória que, das ilhas do Atlântico e do território português, se formou com direção ao Brasil no decorrer do século XVIII. Sabe-se, porém, que houve alarme em Portugal, e que se chegou a tomar medidas concretas para dificultar o fluxo migratório”. A indústria da mineração consubstanciava-se na exploração das jazidas, a qual se dava, de um lado, nas lavras e, de outro, pelo trabalho dos faiscadores — homens livres e nômades que produziam isoladamente e já faziam parte do cenário europeu. Seu volume tendeu a aumentar na fase de decadência do ouro. A produção maior, no entanto, era obtida nas grandes lavras, que reuniam um número elevado de trabalhadores, a maioria dos quais era escrava. Não se registra a presença do índio. Não se pode ignorar que a produção aurífera conheceu novas modalidades de trabalho escravo em virtude de sua organização geral. Diferentemente do ciclo econômico anterior, alguns escravos gozavam de uma posição diferenciada na economia mineira, com maior mobilidade social. Podiam mesmo chegar a se estabelecer por conta própria, trabalhando por quotas e acumulando o suficiente para adquirir a própria liberdade. Essas diferenças sociais atingiam os homens livres também. No passado, somente os grandes proprietários gozavam do status advindo de sua posição dominante na estratificação social vigente. Em Minas, porém, as possibilidades eram outras e vários empreendedores de menor porte logravam sucesso na nova atividade. Vale lembrar que a atividade aurífera exigia um controle maior por parte dos colonizadores, devido à sua importância como fonte de riqueza. O controle era praticado por meio de atos, regimentos, regulamentos e vigilância local, pelo superintendente da Intendência de Minas, forma de administração especial da Coroa. É dessa época a determinação da quinta parte — o quinto — como taxação sobre o ouro extraído. A Fazenda Real enfrentava muitos contratempos para a fiscalização da cobrança desse imposto. Tratava-se de um tributo alto para os mineradores, que não pouparam criatividade para burlar o fisco e maquiar o montante da produção obtida. Foi uma longa disputa que desembocou na criação das Casas de Fundição. Todo o ouro extraído tinha de passar por esse local para ser fundido e cunhado quando, então, no ato da colocação do selo régio, era recolhido o tributo. Estava terminantemente proibida a circulação de metal que não tivesse sido anteriormente “quintado”. As conseqüências para os infratores eram severas, chegando até o degredo para fora dos domínios luso-africanos. Todas essas medidas foram somadas a outra, mais drástica para os envolvidos no atraente negócio das minas de ouro: a decretação da quota mínima, por volta de 100 arrobas ou 1.500 quilos. Espontaneamente ou de forma compulsória, por meio do derrama, a quantia tinha que ser entregue à fiscalização. Tamanho abuso de Lisboa determinou um clima de revolta, culminando com a Inconfidência Mineira, que, apesar de todos os percalços, conseguiu pôr um fim nesses atos predatórios para a colônia. O século XVIII chegou ao seu final conhecendo a decadência da mineração brasileira. O ouro que ainda era encontrado, geralmente nos leitos e nas margens dos rios, na forma de aluvião, diferentemente daquele extraído de rochas matrizes, era pouco abundante, o que explica seu precoce esgotamento. Somava se a esse fato o baixo nível tecnológico empregado pelo explorador, sem pesquisa ou aprofundamento de seus conhecimentos. A administração colonial, devido a seu caráter exploratório, nunca investira em educação nem na racionalização de processos produtivos, comportamento que teve reflexos na economia local e acelerou a decadência da mineração.

Outra preciosidade explorada à época foram os diamantes. O Brasil tomou o lugar antes ocupado pela Índia como grande produtor de diamantes para, posteriormente, perdê-lo para a África do Sul, onde ocorreriam descobertas de grandes jazidas dessa pedra. Em comparação com o ouro, a produção brasileira de diamantes foi pequena, mas conheceu a mesma lógica exploratória. Nesse caso, a Corte acabou por assumir totalmente a questão, com controle direto sobre o Distrito de Diamantina e demais áreas. A mineração, apesar de relativamente efêmera, ocupou um lugar de destaque na história da colônia. No período de sua vigência, foi o foco das atenções no país e cresceu em detrimento das demais atividades. Houve uma corrida ao ouro de outras regiões do país em direção a Minas Gerais, a qual alterou o quadro populacional interno, promovendo a ocupação do Centro-Oeste e a mudança do eixo econômico (que até então estava localizado nas áreas de produção açucareira). Desenvolveram-se também, na região, a agricultura e a pecuária, como atividades acessórias para a manutenção da produção mineradora. Outra conseqüência foi a transferência da capital, em 1763, da Bahia para o Rio de Janeiro, pois as comunicações entre Minas e a Metrópole seriam estabelecidas com mais facilidade por intermédio do porto carioca.

O RENASCIMENTO AGRÍCOLA

Com o florescimento da mineração, a agricultura atravessou um período de decadência. Fenômeno oposto ocorreria no século XVIII, quando, novamente, a agricultura se tornaria a maior fonte de recursos da colônia. Sob os auspícios das vantagens trazidas pela Revolução Industrial e os progressos obtidos no mundo recém-industrializado, novas oportunidades surgiram no mercado internacional. Em consequência da aliança portuguesa com o governo inglês, que colocava Portugal numa posição privilegiada no emaranhado das guerras européias, o Brasil pôde aproveitar as novas oportunidades emergentes para oferecer, com vantagens, suas mercadorias tropicais nas rotas comerciais e investir em um novo produto: o algodão. Com novas tecnologias desenvolvidas na Revolução Industrial, esse tecido tornou-se a principal matéria-prima da época. Devido ao aumento incessante da produção fabril, o Oriente não conseguiu dar conta da demanda. A América, com suas reservas de terras virgens, foi chamada a fornecer a matéria-prima, e o Brasil passou a ocupar um lugar de destaque naquela nova corrida. O algodão é originariamente americano. As populações nativas, inclusive os indígenas brasileiros, já o conheciam antes dos descobrimentos. Até o último quartel do século XVIII, esse produto era usado para fabricar vestimentas rudes e, ocasionalmente, exportado. Com o surto industrial, passou a ser produzido em todo o país, do Pará ao Paraná, passando por Goiás e chegando até o Rio Grande do Sul. O açúcar acompanharia o algodão no renascimento agrícola da colônia. Após um centenário de decadência, as antigas regiões produtoras renasceram. A região paulista também participou dessa nova fase, começando a demarcar sua futura posição na economia nacional. Outra produção que floresceu nesse ciclo foi a do arroz. Embora secundário em relação ao açúcar, teve certa expressão na pauta de exportações. As principais lavouras estavam localizadas, primeiro, no Maranhão e, depois, no Pará e no Rio de Janeiro. O anil foi uma esperança frustrada. Os americanos se tornaram, no século XVIII, os maiores produtores mundiais, superando a produção indiana, que era a grande fornecedora de então. Esse produto foi cultivado nos Estados Unidos, em São Domingos e também no Brasil, que chegou a exportar cinco mil arrobas pela capitania do Rio de Janeiro. Porém, nesse mesmo século começou a decadência e a liderança comercial voltou a ser exercida pela Índia. Os ingleses, com a perda de suas colônias americanas, voltaram a investir na Ásia, e a cultura de anil brasileira conheceu o declínio. Ainda no século XVIII, o cacau apareceu no cenário baiano e na região paraense. Complementarmente, observou-se no Pará a exportação de produtos florestais, tais como baunilha, cravo e canela, juntamente com as resinas aromáticas, explorando a mão-de-obra indígena, apesar de todas as dificuldades conhecidas. O café, proveniente da Abissínia, passou pela Europa antes de atingir a América e chegou ao Brasil na primeira metade do século XVIII. Adaptando-se perfeitamente ao nosso solo e sendo plantado e consumido como bebida no país, causou grande expansão na economia brasileira depois da Independência. Por ora, é suficiente lembrar que esse produto surgiu, paradoxalmente, como um gênero de menor importância. No início, foi desprezado em favor do açúcar, mas acabaria por figurar praticamente isolado na balança comercial cabocla a partir do Segundo Império. Esse fato deveu-se, em grande parte, à posição adotada pelos Estados Unidos, que, menosprezando os grandes centros, até então os maiores produtores, voltaram os olhos para a produção brasileira. Caio Prado Jr. relata que: “Os Estados Unidos, grandes consumidores de café, voltar-se-ão (…) para os novos produtores (…). Em particular o Brasil, favorecido além do mais, com relação a eles, pela sua posição geográfica. A produção cafeeira encontrará nos Estados Unidos um dos seus principais mercados; em meados do século, quando o café se torna o grande artigo de exportação brasileira, aquele país absorverá mais de 50% dela. E essa porcentagem ainda crescerá com o tempo”. O renascimento agrícola colonial marcou a superação da era da mineração. Definitivamente, a agricultura retomou sua importância e foi reconhecida como a base da economia local. Novamente, o Brasil voltou-se do interior para a costa, cumprindo um papel de colônia de exploração. Esse novo surto não teve uma longa vida no Nordeste, pois, já na segunda metade do século XIX, o Centro-Sul tomaria a liderança, enquanto se assistia ao declínio das regiões Norte e Nordeste e à ascensão do Sul e do Sudeste, na época do Brasil politicamente independente.

O CICLO DO CAFÉ

A lavoura de café do início do século passado não enfrentou nenhuma crise mais séria de escassez de mão-de-obra. O mercado de trabalho para a produção funcionava adequadamente, pois a questão da mão-de-obra fora resolvida a partir da década de 1870, com a abundante imigração européia. Além disso, a terra não constituía obstáculo à expansão da produção do café, já que vastas regiões do Estado de São Paulo encontravam-se desocupadas, podendo vir a ser cultivadas no futuro, ainda mais na presença de uma rede ferroviária que se expandia na medida da necessidade de ocupação das terras novas. Assim sendo, a lavoura do café e, portanto, a produção possuíam amplas condições de crescimento no estado, sem enfrentar obstáculos de monta. Em conseqüência, métodos produtivos rudimentares eram perfeitamente adequados, sem reclamar nenhuma mudança que exigisse absorção de recursos de capital para o prosseguimento dessa empresa, cuja aplicação mais lucrativa encontrava se na esfera comercial. Visto que a formação da lavoura e a produção de café necessitavam de financiamento, coube ao comerciante ocupar o espaço deixado pela inexistência de vínculos diretos entre o fazendeiro e os bancos.
Ilustração: Escravos negros na lavoura de Café, Tarsila do Amaral.

3.1 O COMERCIANTE DE CAFÉ E O CRÉDITO AGRÍCOLA

Durante o longo período do século XIX em que a economia cafeeira se assentou sobre o regime de trabalho escravo (e mesmo nas duas décadas seguintes, ao final da escravidão), o mecanismo de financiamento da produção nas lavouras de café vinculava-se profundamente à comercialização do produto. Nesse sistema, adquiriam um papel central os comerciantes (ou comissários) de café das praças de Santos e do Rio de Janeiro, dos quais dependiam, em grande medida, os fazendeiros de café, para: a) realizar seus lucros, com a venda do produto; e b) obter os recursos financeiros necessários à produção. O que diferenciava um comerciante de café de um comerciante comum, portanto, era o fato de exercer a atividade de financiador da lavoura. Como em qualquer atividade produtiva no sistema capitalista, seria razoável supor que a principal fonte de financiamento de capital residisse nos lucros gerados na própria produção, ou, em outras palavras, no autofinanciamento. Contudo, isso não se deu na lavoura cafeeira até pelo menos a crise de superproducão do final do século XIX e princípio do século XX, em razão das características de exigência de recursos para a formação e operação da lavoura. Os recursos financeiros na lavoura de café são importantes por duas razões. Primeiro, por se tratar de uma cultura permanente que exige um período relativamente longo para sua formação. As variedades de café correntes no começo do século passado produziam seus primeiros frutos somente no quarto ano após o plantio, e mesmo essa colheita inicial era modesta. A lavoura era considerada formada e em plena produção apenas no quinto ou sexto ano de vida. Em conseqüência, os gastos com a formação exigiam uma inversão de recursos cujos primeiros retornos tardariam longo tempo para aparecer. A segunda razão refere-se às elevadas exigências do trato do cafezal. São necessárias diversas carpas durante o ano para conservar a lavoura limpa a fim de preservar a produtividade da planta. É assim evidente que, se o regime de trabalho envolvia remuneração monetária da força de trabalho, a lavoura exigia muito capital de giro para sua operação. Tais observações merecem atenção quando se busca explicar a dependência do fazendeiro de café diante do comerciante, na época. Havia, ainda, outra explicação para essa dependência. A função de comercialização do café era extremamente especializada, pois envolvia o preparo de mistura de diversos tipos de café, uma atenção especial com a bebida e outras características que refletiam as exigências das demandas externas, de diversas procedências. O comércio concentrava-se, inclusive por essas razões, nos portos de Santos e do Rio de Janeiro. Assim sendo, ao fazendeiro não restava senão a entrega de todas essas responsabilidades ao comerciante de sua confiança, criando-se laços comerciais que acabavam por atingir o campo do financiamento da produção. “As relações entre o comerciante e o produtor assentavam principalmente na necessidade de fornecer o primeiro a massa de recursos indispensáveis para o desenvolvimento das operações de cultura a cargo do segundo durante o período da formação dos cafezais e posteriormente na rotação anual das colheitas, com a obrigação taxativa da consignação do produto para a amortização dos adiantamentos e dos ônus que lhes são correlatos.” Um conjunto de circunstâncias a cercar o mecanismo de comercialização e financiamento da lavoura de café, no início do século XX, transparece da leitura do trecho anteriormente citado, escrito em 1923. Em particular, deve ser destacada a ênfase no relacionamento entre o comerciante e o fazendeiro: não se tratava simplesmente de uma intermediação comercial, e sim de uma relação complexa na qual a função financiadora do primeiro adquiria relevo essencial. Cabia ao comerciante a função de prover ao fazendeiro os recursos necessários para a formação da lavoura e para o trato do cafezal e a colheita do café. Em outras palavras, cabia ao comerciante fornecer os recursos para a formação do capital fixo e de giro da produção. Era o comerciante, pois, o “banqueiro” da lavoura. Na ausência de um sistema bancário, público ou privado, ligado diretamente à produção, o comerciante de café assumia o papel fundamental de suprir o crédito necessário. Em contrapartida, exigia reciprocidade do fazendeiro, pois a produção era entregue aos seus cuidados, que consistiam no preparo e na venda do café, com uma comissão que na época era fixada em 3% do valor da venda. O comerciante fornecia o crédito ao fazendeiro; em troca, adquiria um cliente cativo. Não era, contudo, um “cativeiro” tão difícil de suportar. O relacionamento comercial entre a casa comissária e a fazenda principiava pelo fornecimento de crédito ao fazendeiro, tanto para a formação da lavoura quanto para o custeio da fazenda. Os juros cobrados pelo comércio comissário sobre tais adiantamentos variavam entre 9% e 12% ao ano. Ao que tudo indica, ao fazer o repasse do crédito bancário ao fazendeiro, o comissário não auferia lucro. Isto é, a taxa cobrada ao fazendeiro era a mesma cobrada pelo banco à casa comissária. Assim, como o dinheiro fornecido ao fazendeiro tomava a forma de adiantamento para cobrir as despesas ao longo do ano agrícola, também o empréstimo bancário era pouco formalizado: os bancos emprestavam sob crédito pessoal do comissário (firma social ou individual) “a descoberto”, mediante simples comprovação de existência de conta corrente. Mais tarde, exigiam-se letras da terra, depois letras com endosso; raramente eram necessárias outras garantias. Assim sendo, a estrutura do sistema de crédito era informal dos dois lados, tanto do banco ao comissário como deste ao fazendeiro. Durante todo o século XIX, ainda sob o regime de escravidão nas fazendas de café, esse papel de comerciante-banqueiro era o exigido do comissário. O sistema geral de venda de café no Estado de São Paulo, desde os mais remotos tempos a que nos chega a tradição, era, depois de transportado o produto ao porto, consigná-lo a um comerciante; este, por uma comissão sobre o valor da venda, transferia-o a um exportador, o qual, por sua vez, colocava o café no mercado consumidor. O comissário continuou a exercer suas funções até pelo menos os primeiros anos do século XX. Mesmo depois, até a crise de 1929, conservou ainda parte da sua importância na ausência de um sistema bancário ligado à produção: “Era, embora em estado rudimentar, o mesmo comerciante que hoje designamos por comissário, e que, com pequenas variações naturais da evolução dos tempos, perdura até nossos dias, como principal agente de negócios de café, no que toca ao produtor, em nosso porto de exportação”. Ao citar um trabalho de Paulo Porto Alegre, de 1878, Taunay afirmava que “pelos anos em que ele escreveu, não havia ainda casas exportadoras e só comissárias. Eram os comissários, os banqueiros dos lavradores. Concentravam, em seus armazéns, as colheitas que as tropas faziam descer do planalto ao litoral”. E, em seguida, observava que “não havendo crédito agrícola no Brasil, via-se o comissário forçado a servir como banqueiro da lavoura”. O comissário ocupa, pois, um espaço deixado pela inexistência do crédito agrícola no país. Como era possível ao comissário financiar a formação e o custeio das lavouras? Continua Taunay : “Os bancos emprestavam sob o crédito do comissário, de sua firma ou pessoal, sob letras endossadas por outros comerciantes, pois recusavam se, sistematicamente, a aceitar endossos de lavradores, de modo que se criavam interdependências comerciais perigosas e por vezes ruinosas”4. Dessa forma, a função de intermediário financeiro, exercida pelo comissário, equivalia a um tipo de especialização do sistema bancário, já que este último, nas condições vigentes na época, não possuía vínculo financeiro com a produção de café. Por que era possível ao comissário o que era vedado ao fazendeiro? Que características permitiam ao comissário obter crédito com os bancos, enquanto aos fazendeiros o mesmo crédito era negado? Uma razão básica residia no fato de que o crédito, durante todo o século XIX e até 1930, era basicamente constituído de empréstimos pessoais. Em conseqüência, o conhecimento e as relações pessoais assumiam relevância na concessão do financiamento. O comércio comissário situava-se, dessa forma, em posição privilegiada junto aos bancos, enquanto os fazendeiros encontravam enorme dificuldade. As casas comissárias no Estado de São Paulo localizavam-se na praça de Santos, centro do comércio interno e de exportação de café. Por conseguinte, essas casas mantinham um relacionamento constante com os bancos, que, mesmo quando sediados na capital, atuavam diretamente nas atividades comerciais de Santos. Os fazendeiros, ao contrário, tinham pouca oportunidade de manter qualquer relacionamento com os bancos, pois residiam em regiões distantes de Santos e da capital. Evidentemente, isso fazia sentido apenas pelo fato de o sistema bancário ser pouco desenvolvido, contando-se nos dedos o número de agências localizadas fora de São Paulo e Santos. A abertura de agências dos bancos nacionais e do Banco do Brasil no interior de São Paulo, que aproximaria os bancos dos fazendeiros, somente tomaria vulto nos anos 1920. É o que se conclui da passagem a seguir: “(…) em 1918, os bancos nacionais, em São Paulo, dispunham de 11 agências no interior do estado. Em 1924 esse número subiu a 53, para atingir 88 agências em 1927. O Banco do Brasil em 1918 contava 28 agências, das quais quatro ficavam no Estado de São Paulo. Em 1927 o principal estabelecimento bancário brasileiro dispõe de 70 agências, das quais 16 em nosso estado”. Havia ainda outras razões que possibilitavam aos comissários o acesso ao crédito bancário. Entre elas, seguramente, o fato de que não era incomum existirem vínculos pessoais entre os comissários e os bancos. O conselheiro Antonio Prado, por exemplo, além de grande fazendeiro na região de Ribeirão Preto e Sertãozinho (desde o final do século XIX), era proprietário, juntamente com outros membros de sua família, de uma casa comissária em Santos — a Prado & Chaves — e, ao mesmo tempo, era o controlador de um dos mais importantes bancos da época — o Banco do Comércio e Indústria de São Paulo (Comind). A razão principal, contudo, para o acesso dos comissários ao financiamento bancário, bem como para a inexistência de um vínculo efetivo entre os bancos e os fazendeiros no começo do século XX, residia na própria natureza da empresa do café. De um lado, os capitais da época, fossem eles nacionais ou estrangeiros, estavam aplicados basicamente no grande negócio que era o comércio do café. Sendo o produto uma das mercadorias de maior valor no comércio internacional, era na esfera da comercialização que se realizavam os grandes negócios, acumulavam-se fortunas e prosperavam as empresas. Evidentemente, a produção de café proporcionava lucros ao fazendeiro; no entanto, tais lucros eram, seguramente, menores do que aqueles auferidos na sua comercialização, não apenas no âmbito doméstico, mas também, e sobretudo, nas exportações.

ESGOTAMENTO DO SISTEMA DE FINANCIAMENTO DA ECONOMIA CAFEEIRA

Sendo informal, o sistema creditício revelava-se flexível e adequado ao fazendeiro. Se por acaso a colheita fosse pequena, ou se baixassem as cotações do café no mercado internacional e os preços no mercado interno, o pagamento do empréstimo era muitas vezes postergado. As vantagens que um sistema de crédito como esse proporcionava tanto ao comissário quanto ao fazendeiro eram evidentes. A este último, em particular, era altamente favorável: tinha acesso ao crédito de que necessitava a juros razoáveis e ainda contava com flexibilidade em períodos de aperto financeiro. Ao comissário, por sua vez, mesmo não auferindo lucros no repasse, cabia a vantagem de assegurar para si a colheita do fazendeiro, cuja comercialização lhe proporcionava os lucros da sua atividade. O ponto fraco do sistema estava, a par de suas vantagens, precisamente no caráter pessoal do crédito: com a expansão da lavoura e o conseqüente aumento do volume de negócios, as somas emprestadas cresceram e passaram a exigir garantias mais sólidas. Entretanto, mesmo essa debilidade do sistema encontrou solução nos primeiros tempos da grande expansão da lavoura (a partir de meados da década de 1880), pois o aumento do número de casas comissárias fazia com que os riscos maiores se diluíssem. À parte possíveis exageros, as casas comissárias surgiram em grande número, acompanhando a expansão dos negócios. Taunay chega a apontar cerca de duas mil firmas comissárias no Rio de Janeiro. Em entrevista a um jornal do Rio de Janeiro em 1927, um antigo comerciante de café assim descrevia o sistema: “(…) havia até 15 anos passados três classes distintas no comércio de café do Rio: o comissário, o ensacador e o exportador. O comissário recebia o café do interior. Adiantava dinheiro ao fazendeiro, representando em face do produtor, o papel de banqueiro. O fazendeiro, além dos juros, que variavam entre 9 e 12%, pagava ao comissário uma comissão de 3% como, de resto, acontece ainda hoje. O ensacador comprava por conta própria o café aos comissários. Era esse intermediário quem manipulava e classificava os tipos de café. (…) O exportador não fazia, como hoje, a classificação do café para os mercados externos. Ele se limitava a comprá-lo já manipulado do ensacador para a exportação. Ensacador e comissário, via de regra, eram ou brasileiros ou portugueses. O exportador era uma classe na sua quase totalidade constituída do elemento estrangeiro, ingleses principalmente. Não tinham nenhum armazém de depósito. Possuíam apenas escritórios. (…) Atualmente não existe mais a distinção entre ensacador e exportador, há apenas duas classes de intermediários entre o produtor e o mercado exportador, e que são o comissário e o exportador. A existência outrora de uma classe intermediária entre o comissário e o exportador era vantajosa para aquele, pois que o ensacador ajudava o comissário a resistir à desvalorização do produto. O ensacador era um interessado na alta, tanto quanto o comissário. E assim toda vez que o café tendia para baixa, era ele quem, via de regra, ajudava o comissário obter crédito nos bancos, para o café não ir parar a preços não-remuneradores às mãos do exportador”. O autor da entrevista referia-se ao comércio do café no período anterior à República, na praça do Rio de Janeiro. Contudo, adianta que tal sistema prevaleceu até “15 anos passados”, ou seja, até por volta de 1912. Descontando se o papel do ensacador, importante principalmente no Rio de Janeiro do século XIX, em essência era esse também o sistema na praça de Santos, no início do século XX. Muitas são as informações importantes nesse depoimento. A primeira delas é o interesse altista do comissário e o interesse do exportador na baixa do café. Aí residia um ponto de convergência de interesses do comissário e do fazendeiro. Ao comissário, assim como ao fazendeiro, só interessava a alta, pois sua comissão repousava sobre o valor da venda. Ao exportador, ao contrário, era a baixa do preço interno que interessava, pois ganhava na diferença entre esse preço e o de exportação. Nesse sentido, pode-se concluir que a casa comissária era o representante do fazendeiro nas praças de Santos e do Rio de Janeiro. Outra informação importante diz respeito ao controle do comércio exportador. Da mesma forma que no Rio, os maiores exportadores da praça de Santos eram estrangeiros. Do total de sacas exportadas pelo porto de Santos, no período de 1895 a 1907, verifica-se que os dez maiores exportadores foram responsáveis por mais de 70% das exportações. Dentre eles figura apenas uma empresa brasileira, a Prado & Chaves. Mesmo assim, essa firma brasileira foi responsável pelo equivalente a menos de 4% do total exportado no período. O controle das casas exportadoras por firmas estrangeiras, na praça de Santos, era, pois, absoluto. Em conseqüência, uma parcela considerável da renda gerada na economia cafeeira era apropriada por capital estrangeiro e drenada para o exterior. À medida que crescia a área e atuação das casas exportadoras, em detrimento das casas comissárias, maior era a capacidade baixista do exportador e, portanto, maior a importância da renda apropriada e transferida para o estrangeiro. O comércio funcionava de tal modo que à queda dos preços internacionais não se seguia uma correspondente baixa dos preços no varejo. Esse mecanismo funcionou entre 1894-1904, provocando o aumento da margem de comercialização dos intermediários, que passou de 13 centavos por libra-peso em 1892-1895 para 17,4 centavos por libra-peso em 1901. Em outros termos, os exportadores estrangeiros da praça de Santos exerciam um papel de oligopsônio sobre vendedores, enquanto as casas comissárias organizavam-se numa estrutura concorrencial. Decorre desse fato um confronto desigual entre fracos interesses altistas e poderosos interesses baixistas, verificados, sobretudo, em períodos de superprodução, como o que teve lugar no final do século XIX e princípios do século XX. Se de um lado os comissários trabalhavam pela alta das cotações, e assim representavam interesses que eram seus e dos fazendeiros, por outro lado sua atividade incluía práticas que contrariavam interesses dos proprietários de terra, como manipulações com o café adquirido em consignação dos fazendeiros. Quando um tipo de café de qualidade era misturado com outros, de qualidade inferior, alcançavam-se preços mais baixos. Para o comissário, essa prática era interessante, pois assim encontrava colocação para produtos que, de outro modo, não teriam mercado. Isto é, ao comissário interessava vender pelo maior preço, mas vender todo o café de que dispunha em consignação, o que acarretava perdas para o fazendeiro que enviava um café fino a Santos. Outras práticas também prejudicavam o fazendeiro. O café vendido pelo comissário ao exportador era acompanhado de uma simples conta de venda do comissário ao fazendeiro, relatando as condições da venda e o crédito que o fazendeiro possuía em sua conta na casa comissária. Nada impedia que esta emitisse a conta de venda em data posterior à data em que a transação fora de fato realizada. Tais práticas, cuja generalização é obviamente impossível de ser avaliada, eram, contudo, motivo de queixas por parte dos fazendeiros. Essa reação veio à tona, como se poderia esperar, nos momentos difíceis de superprodução e queda dos preços do café. Foi justamente nesses momentos que o mecanismo de comercialização e financiamento do café, baseado no comissário, com eçou a se mostrar inadequado para o empreendimento cafeeiro. É bem verdade que algumas tentativas de formação de um sistema de crédito agrícola haviam sido realizadas desde os tempos do Império. A necessidade de um sistema financeiro alternativo já era sentida bem antes, principalmente por grandes fazendeiros, interessados em realizar investimentos volumosos. A questão da mão-de-obra, entretanto, assumia uma gravidade de tal ordem, na segunda metade do século XIX, que absorvia atenção integral do capital cafeeiro. A introdução do trabalho livre nas fazendas paulistas desencadeou um mecanismo expansionista sem precedentes na lavoura e, como conseqüência, revelou-se mais claramente a insuficiência do sistema de financiamento baseado no comissário. Assim sendo, se, por um lado, recursos financeiros adicionais se tornaram necessários para o custeio das fazendas, de outro, a introdução do trabalho livre veio eliminar a necessidade de recursos anteriormente exigidos para a aquisição de escravos.

A QUESTÃO DA MÃO-DE-OBRA

A utilização em massa do trabalho assalariado representou a primeira fase de desenvolvimento do capitalismo no Brasil. A formação do mercado de trabalho assalariado adquiriu um ritmo mais intenso no país depois da falência definitiva do sistema escravista. Na análise desse processo, salta à vista o fato de que, na região de desenvolvimento mais intenso (Sudeste), praticamente até a década de 1930, a mão-de-obra assalariada era recrutada preferencialmente entre os imigrantes, embora já houvesse, desde as últimas décadas do século XIX, um grande contingente potencial de trabalhadores assalariados constituído por brasileiros natos. Uma investigação parcial dos recursos de mão-de-obra, efetuada em 1882, demonstrou que de cerca de cinco milhões de pessoas na idade de 13 a 45 anos que viviam nas seis maiores províncias do país — Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Ceará —, 651 mil, u 13%, eram escravos. O número de pessoas livres que se dedicavam a qualquer trabalho era igual a 1,4 milhão, ou 29%. As demais, 2,9 milhões, ou 58% de toda a população apta ao trabalho, foram qualificadas como “indivíduos sem ocupação certa”. A abolição da escravatura em 1888 e uma série de cataclismas sociais e econômicos no último quartel daquele século — como a seca catastrófica no Nordeste em 1877-1879 ou a decadência dos cafezais outrora prósperos na província do Rio de Janeiro e a sua transformação em pastagens — resultaram no aumento do número de pessoas que não tinham fontes de rendimentos permanentes para sua subsistência e, muitas vezes, nem sequer domicílio. Foi precisamente nessa época que surgiram, no Rio de Janeiro e em algumas outras cidades do Brasil, as favelas. O que explicaria a necessidade de importação de imigrantes, apesar da existência de tanta mão-de-obra nativa desocupada? Durante 50 anos, de 1880 a 1930, chegaram ao país quatro milhões de imigrantes, a maior parte dos quais se estabeleceu em São Paulo, que era uma espécie de epicentro do desenvolvimento capitalista do país. No final do século XIX, os imigrantes constituíam cerca de metade da população adulta de São Paulo e mais de 10% da população adulta do país.

Ilustração: Imigrantes, Tarsila do Amaral.

Isso aconteceu, em primeiro lugar, porque milhões de habitantes locais pauperizados, sem ocupação certa, representaram por muito tempo um exército de trabalho sobretudo potencial e não real. O longo domínio do sistema escravista e de outros sistemas arcaicos, a exploração impiedosa e a opressão social que as camadas dos des-possuídos, tanto os escravos como os pobres livres, sofreram durante várias gerações mutilaram-nas moral, psicológica e fisicamente. Além disso, o primitivismo dos seus hábitos de trabalho, que se combinava freqüentemente com a deficiência física, assim como tradições e costumes que lhes foram inculcados, criavam sérios obstáculos à exploração capitalista da mão-de-obra nacional. Um tratamento ligeiramente diferente da questão imigratória é oferecido por Celso Furtado, que identifica outros problemas para a utilização da mão-de-obra nacional na grande lavoura cafeeira, somados à dificuldade de adaptação dos trabalhadores, principalmente da zona urbana, às condições de vida e trabalho nas grandes fazendas. Em primeiro lugar, o estoque de escravos existente no Brasil revelou-se insuficiente em face da contínua expansão da produção cafeeira. O tráfico interno de escravos direcionado para as plantações de café do sul, em prejuízo das regiões decadentes (como a região algodoeira do Maranhão), atingiu um ponto de esgotamento, provocando uma utilização ainda mais intensa — e, conseqüentemente, um desgaste maior — dessa mão-de-obra. Além disso, os trabalhadores pertencentes à economia de subsistência estavam extremamente dispersos, dificultando o recrutamento e exigindo uma significativa mobilização de recursos. Tal empreitada, no entanto, demandaria ampla cooperação por parte dos proprietários das terras em que se encontravam esses trabalhadores, algo pouco factível, pois o prestígio e o poder político do senhor de terras dependiam, em grande medida, “da quantidade de homens que pudesse utilizar a qualquer momento e para qualquer fim”. Os fazendeiros de café de São Paulo e os industriais principiantes do Rio de Janeiro e de São Paulo, durante muito tempo, preferiam admitir operários imigrantes que já haviam “cursado uma escola de trabalho assalariado”, habituados a mais disciplina e autonomia, embora seus salários fossem mais elevados. Ao mesmo tempo, o governo federal e as administrações locais dos estados do Sudeste, principalmente São Paulo, continuavam a gastar importantes somas para subsidiar a imigração, apesar da intensificação do superpovoamento agrário. As primeiras restrições à imigração, ainda tímidas, como a proibição do ingresso de pessoas doentes e idosas, foram introduzidas no país em 1921. Depois de 1930, com o agravamento do problema do emprego, devido, entre outras razões, ao crescimento da oferta de mão-de-obra no mercado nacional, restrições mais sérias foram impostas. De modo geral, até a década de 1930, a reserva de mão-de-obra composta de brasileiros nativos era utilizada relativamente pouco e de preferência nos ramos em que prevaleciam relações de produção tradicionais. Via de regra, as condições de contratação de mão-de-obra nacional eram consideravelmente piores. Segundo Roberto Simonsen, em 1938, 50 anos depois da abolição da escravatura, o salário de um trabalhador de muitas zonas do Norte e do Nordeste do Brasil era inferior aos gastos com a manutenção de um escravo nos últimos anos do Império. “Por condições econômicas ainda mal estudadas, o trabalhador livre, em vastas zonas do país, não ganha o suficiente para se alimentar: é um subalimentado executando miseravelmente o pouco trabalho de que é capaz, a troco do simples direito de viver”. Tudo isso permite afirmar que a libertação dos escravos não os transformou em operários assalariados, como supõem alguns, mas apenas criou possibilidades para isso. Tornar-se-iam proletários apenas filhos e netos dos antigos escravos, cujos pais e avós tiveram de passar pela severa escola da adaptação ao novo modo capitalista de produção. O baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas e do próprio produtor imediato, no entanto, não foram as únicas causas do desenvolvimento atrasado e lento do mercado de trabalho assalariado. A concentração das terras mais férteis e melhor situadas em latifúndios foi um importante obstáculo à transformação da maior parte das pessoas livres em proprietários de terra. Apesar disso, muitas tiveram acesso ao meio de produção básico, estabelecendo-se em terras alheias como arrendatários. Além disso, o monopólio da grande propriedade de terra no Brasil jamais teve um caráter absoluto. Na periferia e dentro das principais zonas de produção agrícola existiam grandes maciços de terras que não pertenciam a ninguém ou tinham sido abandonados, o que abria à população indigente livre, que crescia cada vez mais, possibilidades de obter meios de subsistência. Portanto, embora a maioria das pessoas livres não possuísse os meios de produção, não estava destituída totalmente dos meios de existência, o que deu condições para transformar uma parte da população rural indigente em camponesa. Esses processos tornaram-se especialmente intensos após a derrocada do sistema escravista e resultaram na formação de dois sistemas econômicos: um de economias “semifeudais” e de pequenas economias camponesas, que concorriam na utilização do excesso de mão-de-obra com o outro sistema, verdadeiramente capitalista.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LACERDA, Antônio Corrêa de … [et al.]; Economia brasileira / organizadores José Márcio Rego, Rosa Maria Marques; colaboração especial Rodrigo Antônio Moreno Serra. — 4.ed. — São Paulo : Saraiva, 2010.

IGREJA UNIVERSAL SURPREENDE E CRIA EXÉRCITO EVANGÉLICO


Um exército evangélico em formação

Já imaginou reunir a rigidez das Forças Armadas com a religião? É o que está acontecendo com a formação do grupo fundamentalista conhecido como Gladiadores do Altar, a mais nova invenção da Igreja Universal Um vídeo publicado pela Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) na internet mostra jovens marchando, batendo continência e gritando que estão “prontos para a batalha” durante um culto realizado em Fortaleza. Os jovens fazem parte de um programa da igreja chamado Gladiadores do Altar, voltado à preparação de rapazes de “diversas idades para servir a Deus no Altar”, segundo informa o site da Iurd. O programa, que é ligado à Força Jovem Universal, foi lançado no ano passado. “O projeto realiza reuniões semanais com os rapazes que estão dispostos a abrir mão de suas vidas para que outras pessoas sejam ajudadas, cumprindo assim o que Jesus disse: ‘Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura'”, diz o site da Universal. “Graças ao Senhor hoje estamos aqui prontos para a batalha, e decididos a te servir. Somos gladiadores do seu altar. Isso é uma decisão. Todos os dias enfrentamos o inferno confiantes em sua santa proteção”, gritam os jovens. Ao fim do discurso, perguntados pelo condutor do juramento “o que os gladiadores querem?”, eles respondem em coro: “O altar, o altar, o altar”.

O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) postou uma foto dos Gladiadores do Altar em seu perfil do Instagram, com um texto no qual se diz chocado com a “milícia” que, segundo ele, vem sendo formada pelo “fundamentalismo religioso do país”. “O fundamentalismo cristão no Brasil tem ameaçado as liberdades individuais, a diversidade sexual e as manifestações culturais laicas. Agora ele está formando uma milícia que, por enquanto, atende pelo nome de ‘Gladiadores do Altar'”, escreveu o parlamentar. “Quando começarem a executar os ‘infiéis’ e ateus e empurrarem os homossexuais de torres altas como vem fazendo o fundamentalismo islâmico no Oriente Médio? Não é porque tem a palavra ‘cristão’ na expressão que o fundamentalismo cristão deixa de ser perigoso e não fará o que já faz o fundamentalismo islâmico.” Durante toda a manhã desta terça-feira, a igreja retirou do ar vários vídeos de cultos do grupo. Ainda é possível encontrar alguns no YouTube.

As imagens de jovens fardados que formam o exército dos Gladiadores do Altar da Igreja Universal do Reino do Deus, assusta e causa uma certa preocupação. Será que a criação de um exército ainda que sem armas e aparentemente pacífico, não é um dos primeiros passos para se criar uma religião fundamentalista que pode se voltar para a própria nação? A Igreja Universal do Reino de Deus afirma que o projeto “Gladiadores do Altar” é um projeto que busca resgatar jovens de todas as idades em situação de risco e prepará-los para servir exclusivamente ao ‘Senhor’. A participação no projeto é opcional para aqueles que querem levar o evangelho deixado por Cristo há milhares de anos, em cumprimento ao registrado em Marcos 16:15: “Ide e pregai o evangelho a toda criatura.” A instituição religiosa diz ainda que ao invés de praticar a intolerância “o projeto realiza reuniões semanais com os rapazes que estão dispostos a abrir mão de suas vidas para que outras pessoas sejam ajudadas”.

Na página do Facebook da Igreja Universal do Reino de Deus, onde um video mostrando exército dos Gladiadores do Altar, podemos ver milhares de pessoas preocupadas e outras zombando. É inevitável, após assistir ao vídeo, não comparar a performance dos Jovens do exércitos dos Gladiadores do Altar, que parecem hipnotizados respondendo comandos de um líder, esticando a mão apontando ao altar, ao do exército nazista de Hitler saudando o Führer e o 3° Reich. Seria a formação de grupos de exaltados fundamentalistas religiosos com ideias militares um erro gravíssimo que pode ter consequências sérias no futuro devido a alienação religiosa? Será que estamos assistindo ao nascer de um exército disposto a tudo em nome de seu deus, até mesmo matar, como fazem os extremistas do oriente médio, ou tudo não passa de um exagero de pessoas que não aceitam as igrejas evangélicas? Temer ou louvar?

terça-feira, 3 de março de 2015

APOSTILA DE INTRODUÇÃO A ECONOMIA


UNIDADE 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ECONOMIA

O objetivo desta unidade é trazer a você aluno(a) as principais noções da Ciência Econômica. Vamos conhecer as principais Escolas do Pensamento Econômico, que é a base das Teorias Econômicas. Na sequência, vamos estudar as necessidades, os bens econômicos e os serviços, a fim de que você possa estabelecer relações com a economia e seu cotidiano. E para finalizar, vamos estudar sobre o conceito de fatores de produção, com o objetivo de fazer você compreender a situação do trabalhador, da acumulação de capital, da distribuição da riqueza, da industrialização, do setor agroindustrial, do comércio, das famílias, das empresas e do governo.

1.1 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

A história da Economia é de grande importância para a humanidade, tanto a pré-clássica quanto a mais atual. É somente entendendo a dinâmica da história econômica das civilizações que você poderá compreender toda a complexidade que domina a ciência econômica e a sociedade. A Economia surgiu como ciência a partir de 1.776, com a publicação da obra de Adam Smith, A Riqueza das Nações. Antes disso, a Economia não passava de um pequeno ramo da Filosofia Social e do Direito. Com o Mercantilismo e a Fisiocracia, as ideias econômicas começam a ter um pequeno desenvolvimento.

Antiguidade e suas contribuições ao pensamento econômico

Mesmo nas sociedades primitivas, os homens precisavam organizar-se em sociedade, para defender-se dos inimigos, abrigar-se e produzir comida para sobreviver. A divisão do trabalho, daí decorrente, permitiu o desenvolvimento da espécie humana em comunidades cada vez maiores e mais bem estruturadas. Na maior parte dos casos, a produção era basicamente para sobrevivência. Alguns homens mais habilidosos passaram a produzir um pouco mais, o que permitiu o início das trocas. Aos poucos, o trabalho de alguns homens passou a ser suficiente para atender às necessidades de um conjunto cada vez maior de pessoas. Na Grécia Antiga, como em Roma, a maior parte da população era composta por escravos, que realizavam todo o trabalho em troca do estritamente necessário para sobreviver. Os senhores de escravos apropriavam-se de todo o produto excedente. A economia era quase exclusivamente agrícola; o meio urbano não passava de uma fortificação com algumas casas, onde residiam os nobres, ou chefes militares. Gastaldi (1999) assinala que, na história da civilização de Roma, se encontram muitos dos elementos que caracterizam o moderno capitalismo. Os romanos foram os principais estadistas, juristas e construtores de impérios. Um dos traços da civilização romana foi a expansão agrícola, que favoreceu a sua economia e, notadamente, a sua agricultura, e que foi um dos determinantes da expansão do poderio político do Império. De uma outra forma, o declínio de sua agricultura foi a principal causa de sua perda. Agressiva foi a política de expansão comercial de Roma, que proporcionou grandes lucros, ao mesmo tempo em que despertou a rivalidade com o poder comercial de outros povos. Isto posto, os acordos comerciais foram substituídos pelos conflitos armados. Com o Império Romano: • Consolidava-se a expansão comercial; • Consolidava as funções do dinheiro; • Criavam-se os impostos mais elevados; • Aumentavam as despesas do governo.

Foi também no Império romano que nasceu a agiotagem, e a riqueza passou a se concentrar nas mãos de uma minoria. As economias dos países subdesenvolvidos, tal como o Brasil, apresentam semelhanças com o Império Romano. De uma lado, há pessoas abastadas e profundamente ricas, de outro, há pessoas pobres. As situações de decadência do império conduziu o povo a uma elevada crise de escassez, quando aumentaram, e muito, as necessidades urbanas em alimentos. Podemos apontar as causas econômicas de declínio do império Romano: • Grande concentração das riquezas por grupos minoritários; • Grandes propriedades rurais improdutivas; • Servidão dos pequenos e médios agricultores; • Separação sempre maior entre ricos e pobres; e • Crescente escassez de alimentos. Deste modo, podemos concluir que, as causas econômicas conjugadas com as políticas, determinaram a queda do Império Romano.

O fim do escravismo e surgimento do Feudalismo

O Feudalismo é o sistema de organização econômica, política e social característico da Europa Ocidental na Idade Média. Com as invasões bárbaras e a desagregação do Regime político de Roma, a partir do Séc. V, a Europa inicia uma profunda reestruturação, marcada pela descentralização do poder, ruralização e emprego de mão-de-obra servil, que é a base do feudalismo. Com começo e fim graduais, o sistema feudal tem sua origem melhor situada na França setentrional dos séculos IX e X – com declínio da monarquia carolíngia – e o seu desaparecimento no século XVI. Organização Feudal – O feudalismo tem como característica a integração das estruturas do mundo romano e do germânico (bárbaro). O enfraquecimento do poder central e o desmembramento do território em feudos, além da vinculação estreita de autoridade e posse da terra, são aspectos centrais do sistema feudal em formação. A sociedade é estabelecida em relações de dependência pessoal, ou vassalagem, que abrange desde o rei até o camponês. O vassalo oferece ao senhor, ou suserano, fidelidade e trabalho, em troca de proteção e um lugar no sistema de produção. O senhor feudal também é vassalo de outro senhor, e assim sucessivamente, até chegar ao rei, o suserano maior. Nobreza Feudal – No meio feudal, profundamente hierarquizado, cada escala de vassalagem paga algum tipo de serviço ao seu suserano e ao rei. Os vínculos entre vassalos e senhores são firmados em atos solenes, de origem germânica. Nessas cerimônias um homem livre submete-se a outro colocando suas mão juntas entre as do senhor, em juramento sagrado de fidelidade e vassalagem. Os senhores feudais formam a nobreza rural e possuem jurisdição sobre servos e camponeses livres. Vivem em castelos, que servem ao mesmo tempo como residência e fortaleza. Propriedade privada não só de reis ou príncipes, mas de qualquer senhor, o castelo é a melhor representação do poder civil e militar, símbolo da nobreza feudal. O controle dos domínios dessa nobreza feudal é feito por tropas aquarteladas nos próprios castelos, sendo o poder de fogo de cada fortificação correspondente ao raio de ação de seus homens montados. São os cavaleiros armados que garantem o domínio do senhorio sobre a terra. A supremacia dessa classe de guerreiros especializados é uma característica primordial da classe dominante do feudalismo. Os francos que combatiam a pé passam a a adotar a cavalaria pesada a partir do século VIII. O feudo patrimônio real cedido em usufruto a membros da nobreza e do clero, constitui a unidade territorial da economia feudal. Caracterizado pela autarquia e pela ausência quase total de comércio e intercâmbio monetários. A produção dos feudos é de subsistência. E as trocas quando há são feitas com produtos, não com dinheiro. As cidade deixam de ser centros econômicos e de ofício e o artesanato passam a se realizar nos próprios castelos. A Igreja integra-se ao sistema feudal por meio dos mosteiros, que reproduzem a estrutura dos feudos. Ela transforma-se em grande proprietária feudal, e os membros do alto clero recebem domínios, tornando-se ao mesmo tempo suseranos e vassalos. Um exemplo da influência ainda hoje desse período é o modo de se render homenagem a deus, rezando-se com as mãos juntas, ato que remonta às cerimônias em que senhor e vassalo estabeleciam seus compromissos mútuos. O feudalismo é um dos alicerces do Estado Ocidental moderno. Os grandes conselhos de reis e seus principais feudatários são os ancestrais diretos dos modernos parlamentos.

O DECLÍNIO DO SISTEMA FEUDAL - A TRANSIÇÃO

Ironicamente, os aumentos na produtividade agrícola constituíram o ímpeto original para uma série de profundas mudanças, ocorridas ao longo de um grande período, e que resultaram na dissolução do feudalismo medieval e no início do capitalismo. O mais importante avanço tecnológico da Idade Média foi a substituição do sistema de plantio de dois campos para o sistema de três campos. O plantio anual da mesma área esgotava a terra e acabava com sua fertilidade natural tornando-a inútil. Assim no plantio de dois campos, metade da terra era sempre deixada ociosa, de modo que recuperasse do plantio do ano anterior. Com o sistema de três campos, a terra arável era dividida em três partes iguais. No outono, no primeiro campo se cultivava centeio ou trigo, No segundo, na primavera se plantava, aveia ou ervilha, deixando-se o terceiro campo em repouso. Todo ano havia uma rotação dessas posições de modo que num dado trecho de terra teria uma cultura de outono, num ano, de primavera no ano seguinte e descansaria no terceiro ano. Dessa mudança aparentemente simples, resultou um espetacular aumento do produto agrícola. Com a mesma quantidade de terra arável, o sistema de três campos, aumento a área cultivada em qualquer época, em pelo menos 50% . Esse drástico aumento na produtividade agrícola contribui diretamente para, pelo menos, duas mudanças cruciais. Primeiro, tornando possível um rápido aumento da população. Segundo um rápido crescimento da concentração urbana. Tudo isso contribuiu de maneira fundamental para o rápido crescimento do comércio, que para muitos historiadores será a mais importante força isolada de desintegração do sistema feudal.

A Economia na Idade Média

A Idade média ou Idade Medieval, surgiu com o declínio da Império Romano por volta de 476 D.C. Esse período, um dos mais longos da história, durou dos anos 500 a 1500. Com a Idade Média, abriu-se uma nova era para a humanidade o chamado feudalismo. Na base do sistema feudalista, estava o servo, que trabalhava nas terras de um senhor, o qual devia lealdade a um senhor mais poderoso, este a outro, até chegar ao Rei. Os senhores davam a terra a seus vassalos, para serem cultivados, em troca de pagamento em dinheiro, alimentos, trabalho e lealdade militar. Em troca dessa lealdade, o senhor concedia proteção militar a seu vassalo. O servo não era livre, pois estava ligado à terra e a seu senhor, mas não constituía sua propriedade, como o escravo. As trocas desenvolveram-se no nível regional, entre as cidades e suas áreas agrícolas. A cidade, com seus muros, constituía-se no local de proteção dos servos, em caso de ataque inimigo. Aos poucos, porém, passou a ser o local onde se realizavam as trocas. Desenvolveram-se as corporações de ofício e a divisão do trabalho. Com as Cruzadas, a partir de 1.096, expandiu-se o comércio mediterrâneo, impulsionando cidades como Gênova, Pisa, Florença, Veneza, etc. A Teologia Católica exerceu um poder muito grande sobre o pensamento econômico da Idade Média. A propriedade privada era permitida, desde que usada com moderação. Havia uma idéia de moderação na conduta humana, o que levava às concepções de justiça nas trocas e, portanto, de justo preço e justo salário. O empréstimo a juros era condenado pela Igreja, pois contraria a idéia de justiça nas trocas: o dinheiro reembolsado seria maior do que o emprestado. Diferente do pensamento capitalista, o pensamento cristão condenava a acumulação de capital (riqueza) e a exploração do homem pelo homem. A opção da Igreja, então, foi pelo retorno a atividade rural, ao contrário de Roma. Na verdade, a igreja, através de suas conventos e mosteiros, tornou-se grande proprietária de grandes terras. A terra transformou-se na riqueza por excelência. Nascia, assim, o regime feudal, caracterizado, como dito anteriormente na apostila por propriedades nas quais os senhores e os trabalhadores viviam indiretamente do produto da terra ou do solo. Eram médias ou grandes propriedades rurais, auto-suficientes econômica e politicamente, obedientes a autoridade do senhor ou proprietário, e nas quais os servos exerciam suas atividades agrícolas ou artesanais. O rei, embora dirigisse o Estado, não possuía influência ou poder de decisão nos feudos, onde a autoridades máxima era a do senhor da gleba (os exploradores) e onde labutavam os servos ( os exploradores).

Mercantilismo

O mundo novo surge (inclusive o Brasil nas Américas ), com o crescimento e o desenvolvimento das cidades, a nova política e as profundas mudanças do tempo medieval, grandes transformações começam a ocorrer, tanto em matéria comercial e de produção. O pensamento religioso se enfraquecia, operava-se uma forte centralização política , ocorrendo a criação das nações modernas e das monarquias absolutas. O Renascimento cultural e científico e o Mercantilismo abriram os horizontes da Europa, a partir de 1.450. A Reforma Protestante de Martin Lutero (1.483-1.546) e João Calvino (1.509-1.564), exaltando o individualismo, a atividade econômica e o êxito material, deu grande impulso à economia. Enriquecer não constituía mais um pecado. A cobrança de juros e a obtenção de lucro passaram a ser permitidas. Ao mesmo tempo, ocorreu uma transformação política na Europa, com o enfraquecimento dos feudos e a centralização da política nacional. Aos poucos, foi-se formando uma economia nacional relativamente integrada, com o Estado central dirigindo as forças materiais e humanas. No âmbito internacional, as descobertas marítimas e o grande afluxo de metais preciosos para a Europa, deslocaram o eixo econômico do Mediterrâneo para novos centros como Londres, Amsterdã, Lisboa, Madri, etc. Até então, a idéia mercantilista dominante era a de que a riqueza de um país media-se pelo afluxo de metais preciosos (metalismo). Com a idéia de garantir um afluxo positivo de ouro e prata para seu país, os mercantilistas sugeriam que se aumentassem as exportações e que se controlassem as importações. Na França, surgiu a proteção à indústria, com o fim de assegurar exportações mais regulares e com maior valor. Com o objetivo de maximizar o saldo comercial e o afluxo de metais preciosos, as Metrópoles estabeleceram um "pacto colonial" com suas colônias. Por meio desse "pacto", todas as importações da colônia passaram a ser provenientes de sua Metrópole, assim como todas as suas exportações seriam destinadas a ela exclusivamente. A Metrópole monopolizava também o transporte dessas mercadorias. O Mercantilismo contribuiu decisivamente para estender as relações comerciais do âmbito regional para o âmbito internacional. Ele constituiu uma fase de transição entre o feudalismo e o capitalismo moderno. No Mercantilismo, a ética paternalista cristã (católica) ao condenar a aquisição de bens materiais, entrava em conflito com os interesses dos mercadores-capitalistas. Aos poucos, o Estado Nacional passou a ocupar o lugar da Igreja na função de supervisionar o bem-estar da coletividade. Gradativamente, os governos foram sendo influenciados pelo pensamento mercantilista. (começaram a surgir leis que beneficiavam os interesses dos mercantilistas e do capitalismo nascente: lei do cercamento das terras, leis que incentivavam a indústria, leis que criavam barreiras às importações, etc.) O Mercantilismo provocou grandes distorções, como abandono da agricultura em benefício da indústria, excessiva regulamentação e intervencionismo exagerado do Estado na atividade econômica. Aos poucos, foram surgindo novas teorias sobre o comportamento humano, de cunho liberal e individualista, mais de acordo com as necessidades da expansão capitalista. Os Fisiocratas e a doutrina do "laissez-faire"


A Fisiocracia constitui a primeira escola econômica de caráter científico, liderada pelo médico francês François Quesnay (1.694-1774), autor da obra O Quadro Econômico: análise das variações do rendimento de uma nação. Podemos conceituar a fisiocracia como um grande grupo de economistas franceses do século XVIII que combateu as ideias mercantilistas e formulou, pela primeira vez uma Teoria do Liberalismo Econômico. Dentre suas característica, descatam-se: • Comércio como atividade dominante. Comércio interno. • O Estado era monopólio ( toda atividade era comandada e controlada pelo Estado) Segundo a doutrina fisiocrática, a sociedade é formada pela classe produtiva (agricultores), pela classe dos proprietários de terras e pela classe estéril (todos os que se ocupam do comércio, da indústria e dos serviços). A agricultura era considerada produtiva por ser, para os fisiocratas, a única que gera valor. Desse modo, os preços agrícolas deviam ser os mais elevados possível, a fim de gerar lucros e recursos para novos investimentos agrícolas. Os consumidores seriam compensados pela cobrança de um imposto único sobre a renda dos proprietários de terras e por medidas que reduzissem os preços industriais. A idéia de classe estéril resultou da reação fisiocrática contra a doutrina mercantilista. A moeda passou a ter apenas função de troca e não reserva de valor, pois este encontra-se na agricultura. A indústria e o comércio constituem desdobramentos da agricultura, pois apenas transformam e transportam valores. A terra produz valor por sua fertilidade, seguindo uma ordem natural e providencial. Desse modo a agricultura precisa ser incentivada para aumentar o produto social. Com uma lei natural regulando a ordem econômica, os homens precisam, então, agir livremente, e qualquer intervenção do Estado inibiria essa ordem, ao criar obstáculos à circulação de pessoas e de bens. Assim, eles propunham a redução da regulamentação oficial, para aumentar a produtividade da economia, e a eliminação de barreiras ao comércio interno e a promoção das exportações. Proibição às exportações de cereais, ao expandir a oferta interna, reduziriam os preços, afetando os lucros agrícolas. Por outro lado, para manter baixos os preços das manufaturas e beneficiar os consumidores, propunham o combate aos oligopólios e o fim das restrições às importações. O pensamento fisiocrático era, portanto, liberal, traduzindo-se em sua doutrina do laissez-faire, laissez-passer ... (deixai fazer, deixai passar).

Escola Clássica

O liberalismo e o individualismo dos clássicos estavam associados ao bem comum: os homens, ao maximizarem a satisfação pessoal, com o mínimo de dispêndio ou esforço, estariam contribuindo para a obtenção do máximo bem-estar social. Tal harmonização seria feita, segundo Adam Smith, por uma espécie de mão invisível. O pensamento clássico fundamenta-se, no individualismo, na liberdade e no comportamento racional dos agentes econômicos, com a mínima presença do Estado, que teria como funções precípuas a defesa, a justiça e a manutenção de certas obras públicas. A Escola clássica foi uma escola que caracterizou a produção, deixando a procura e o consumo para o segundo plano. Para Smith, considerado o maior dos clássicos e o pai da Ciência Econômica, o objeto da economia é estender bens e riquezas a uma nação . Nesse sentido, entende que a riqueza somente pode ser conseguida mediante a posse do valor de troca. Valor de troca, para Smith (1981), é a capacidade de obter riqueza, ou seja, á a faculdade que a aposse de determinado objeto oferece de comprar com eles outras mercadorias. Segue a baixo os principais pensadores da Escola Clássica: a)Adam Smith (1.723-1.790)


Com a publicação da Riqueza das Nações, em 1.776, tendo como experiência a Revolução Industrial Inglesa (1.760-1.830), Adam Smith estabeleceu as bases científicas da Economia Moderna. Ao contrário dos mercantilistas e fisiocratas, que consideravam os metais preciosos e a terra, respectivamente, como os geradores de riqueza nacional, para ele o elemento essencial da riqueza é o trabalho produtivo. Assim o valor pode ser gerado fora da agricultura. Adam Smith ensinou que a Economia Política tem como objetivo gerar riqueza para o indivíduo e o Estado, para o provimento de suas necessidades básicas. A riqueza aumenta pelo trabalho produtivo, fecundado pelo capital. "O trabalho anual de cada nação constitui o fundo que originalmente lhe fornece todos os bens necessários e os confortos materiais de que consome anualmente. O mencionado fundo consiste sempre na produção imediata do referido trabalho ou naquilo que com essa produção é comprado de outras nações." O valor vem do trabalho, desse modo ele pode ser gerado fora da agricultura, desde que o preço de mercado supere o preço natural (ou custo de produção). A geração de riqueza de uma nação depende, portanto, da proporção entre o trabalho produtivo (que gera um excedente de valor sobre o seu custo de reprodução) e o trabalho improdutivo (como o dos criados). O emprego de trabalho produtivo depende da divisão do trabalho, e esta da extensão dos mercados. A ampliação das trocas comerciais entre os países proporciona maior divisão do trabalho e especialização dos trabalhadores, aumentando a produtividade e o produto global. À medida que a economia consegue expandir seus mercados, ela obtém rendimentos crescentes à escala, podendo distribuir sem conflitos um produto social maior entre capitalistas, trabalhadores e Governo, na forma de lucros, salários e impostos.

A Teoria do Bem Estar Econômico de Smith

A teoria de Smith era acima de tudo uma teoria normativa. Sua principal preocupação era identificar as forças sociais econômicas que mais promoviam o bem-estar humano e, com base nisso, recomendar políticas que melhor promovesse a felicidade humana. A definição de Smith de bem-estar econômico era bastante simples e direta. O bem-estar humano dependia da quantidade do “produto do trabalho” anual e do “número dos que deveram consumi-lo”. Smith elaborou um modelo que delineava os componentes do capitalismo. O capitalismo era dividido em dois setores básicos de produção – a agricultura e a indústria. A produção de mercadorias exigia três grupos distintos de insumos: • A terra (inclusive os recursos naturais); • O trabalho e o • Capital. As três principais classes sociais do capitalismo – Os proprietários de Terras, os trabalhadores e os capitalistas – correspondiam a estes três grupos. Cada uma das três classes recebia uma forma distinta de remuneração monetária: aluguéis, salários e lucros. O pressuposto de que todo comportamento econômico se baseia em motivos egoístas e gananciosos deverá tornar no grande fundamento da economia neoclássica dos sécs. XIX e XX. No contexto dessa teoria da História, o capitalismo representava o estágio mais alto da civilização e atingiria seu ponto culminante, quando tivesse evoluído para um estado em que o Governo tivesse adotado uma política de laissez-faire (deixa fazer) permitindo a concorrência e o livre jogo da oferta e da procura regulassem a economia, que ficaria quase que completamente livre das restrições do Governo.

b) David Ricardo (1.772-1.823)

David Ricardo em sua obra Princípios de Economia Política e Tributação (1.817), afirma que o maior problema da Economia Política está na distribuição do produto entre as classes sociais (proprietários da terra, capitalistasarrendatários e trabalhadores). Isso ocorre porque a proporção do produto total destinado a cada classe varia no tempo, uma vez que depende da fertilidade do solo, da acumulação do capital, do crescimento demográfico e da tecnologia. Assim, determinar as leis que regulam essa distribuição é a principal questão da Economia. Ricardo transferiu o centro do problema da análise econômica da produção para a distribuição, sendo uma de suas grandes contribuição a teoria do valor. Ele se interessou pelos preços relativos mais que pelos absolutos; queria descobrir a base da relação de troca entre as mercadorias. As mercadorias obtém seu valor de duas fontes: de sua escassez e da quantidade de trabalho necessário para obtê-las. A teoria da renda da terra ocupa um lugar de destaque em sua análise. As diferenças na qualidade da terra determinariam que, enquanto os proprietários das terras férteis obteriam rendas cada vez mais altas, a produção nas terras de qualidade pior geraria só o suficiente para cobrir os custos e não produziria renda. Desse modo, pode-se argumentar que a renda e os lucros poderiam ser isolados, considerando o caso da terra sem renda, na qual o rendimento consistiria inteiramente nas entradas derivadas de capital. De um ponto de vista dinâmico, Ricardo pensava que o crescimento da população acompanhava a expansão econômica, e esta expansão traria consigo um aumento das necessidades de alimentos, que poderiam ser satisfeitas só a custos mais altos. Para manter os salários reais no seu nível anterior, seriam necessários salários monetários mais altos, o que faria a participação dos lucros no produto diminuir. Desta forma, Ricardo mostrou que o processo de expansão econômica poderia minar suas próprias bases, isto é, a acumulação de capital a partir dos lucros, de modo que, ao se reduzir a taxa de lucro, emergiria o estado estacionário, no qual não haveria acumulação líquida nem crescimento. A função de produção ricardiana apresenta rendimentos decrescentes e a economia marcha para um estado de estagnação a longo prazo. O grande problema para os economistas clássicos era a sociedade atingir esse estado estacionário, de crescimento zero, sem que a população tenha atingido o máximo bem-estar. Ricardo foi também o primeiro que desenvolveu a teoria dos custos comparativos, defendendo que cada país deveria especializar-se naqueles produtos que têm um custo comparativo mais baixo, e importar aqueles cujo custo comparativo fosse mais alto. Essa é a base da política de livre comércio de David Ricardo para os bens manufaturados. Segundo essa política, cada país deve dedicar seu capital e trabalho àquelas produções que se mostram mais lucrativas. Dessa forma, o trabalho distribuísse com maior eficiência e, ao mesmo tempo, aumenta a quantidade total de bens, o que contribui para o bem-estar geral. A teoria dos custos comparativos harmoniza os interesses dos diferentes países nos assuntos internacionais.

c) O Pensamento Socialista (Karl Marx: 1.818-1.883)



A CRÍTICA DE MARX À ECONOMIA CLÁSSICA

A relação de Marx com os pensadores que discutimos nas aulas anteriores (SMITH, MALTHUS E RICARDO) era complexa. Ele foi muitíssimo influenciado pelas teorias do valor e dos lucros, de Smith e Ricardo - e, em alguns aspectos, sua teoria pode ser considerada uma extensão, um refinamento e uma elaboração mais detalhada das idéias daqueles autores. Quanto a outros aspectos de suas teorias, porém, Marx considerava-se um crítico antagonista. Para Marx a maior deficiência desses autores (Clássicos) era a falta que esses tinham de perspectiva histórica (embora esta crítica se dirigisse menos a Smith). Segundo Marx, se estes estivessem estuda História com mais cuidado, teriam descoberto que a produção é uma atividade social, que pode assumir muitas formas ou modos, dependendo das formas vigentes de organização social e das correspondentes técnicas de produção. A sociedade européia tinha passado por várias épocas históricas distintas, ou modos de produção, inclusive a sociedade escravocrata e a sociedade feudal, e estava, naquele momento, organizada de uma forma histórica específica o o modo capitalista. A principal crítica de Marx aos clássicos residia no fato dessa deduzirem que o capital era um elemento,com características idênticas, em todos os processos de produção. Ledo engano, a identificação errada do capital se originava no fato de que o capital tinha uma característica universal em toda a produção e um característica particular com relação ao capitalismo. “A produção” - admitia Marx- não era “possível sem um instrumento de produção”; também não poderia haver “produção sem trabalho acumulado passado... O capital é também, entre outras coisas, um instrumento de produção, é também trabalho passado materializado. Portanto, o capital é uma relação geral e eterna da natureza, assim definido se eu omitir apenas a qualidade específica que, por si mesma transforma o ‘instrumento de produção’ e o ‘trabalho acumulado’em capital” . O que Marx quis dizer nessa passagem, não era nada além da capacidade ou qualidade específica que o capital tem em geral lucros para uma classe social especial – a Burguesia (classe dominante). Só no capitalismo os “instrumentos de produção” e “o trabalho acumulado – capital” eram a fonte de renda e do poder da classe social dominante. Marx, contrariamente aos economistas que criticava, procurou entender como este aspecto do capital surgiu e, depois como se perpetuou.

MERCADORIAS, VALOR, VALOR DE USO E VALOR DE TROCA

Marx estava interessado em explicar a natureza da relação social entre capitalistas e trabalhadores. Em termos de teoria econômica, isto significava a relação entre salários e lucros. Quando se considerava apenas a esfera da troca ou circulação, os salários e lucros pareciam conseqüência da simples troca de mercadorias. Então Marx começou o Vol. 1 de O Capital (com o subtítulo de Uma Análise Crítica da Produção Capitalista) com uma análise das mercadorias e da esfera da circulação. Para Marx, uma MERCADORIA tinha duas característica essenciais: primeiro, era “uma coisa que, por suas propriedades, satisfazia as necessidades humanas”. As Qualidades físicas particulares de uma mercadoria que tinha utilidade para as pessoas, faziam com que a mercadoria tivesse um VALOR DE USO. E segundo lugar, as mercadorias eram, “além disso, o depositário material do valor de troca”. O VALOR DE TROCA de uma mercadoria era uma relação entre a quantidade desta mercadoria que se poderá conseguir em troca de uma certa quantidade de outra ou outras mercadorias. O Valor de troca era o meio através do qual todas as mercadorias podiam ser direta e quantitativamente comparadas. Pra isso, tem que se supor que exista um elemento comum a todas as mercadorias, em virtude do qual tais comparações podiam ser feitas. Para Marx o único elemento comum a todas as mercadorias era o tempo de trabalho necessário para sua produção (ttn) .

NATUREZA SOCIAL DA PRODUÇÃO DE MERCADORIAS

O produto do trabalho humano só se transformava em mercadorias quando eram produzidos apenas com o fito de serem trocados por dinheiro no mercado e não para uso ou gozo imediato pelos produtores ou por outras pessoas diretamente associadas a eles. Assim, para Marx a produção de mercadorias era sempre dominada pela busca do valor de troca. O produto só se transforma em mercadoria mediante um processo historicamente determinado, ou seja quando os meios de produção tiverem uma configuração claramente definida, ou seja, que haja o divorciamento dos meios de produção, onde não resta ao trabalhador (no tocante ao domínio dos meios de produção) nada mais além de que sua própria Força de Trabalho (FT), e que o capitalista tenha dominado os demais meios de produção (o Capital (K), as máquinas e a matéria prima).

CIRCULAÇÃO SIMPLES DE MERCADORIA E CIRCULAÇÃO CAPITALISTA

As condições históricas necessárias para a produção de mercadorias não eram, segundo a argumentação de MARX, idênticas às necessárias para a existência do Capitalismo. Ele estava interessado em entender a natureza histórica e social específica do capital como fonte dos lucros. Na produção simples de mercadorias, em um sistema não-capitalista, produziam-se mercadorias para venda com o fim de adquirir outras mercadorias para uso. Em tal sistema Marx escreveu: “A troca de mercadorias é... acompanhada das seguintes mudanças em sua forma: Mercadoria-Moeda- Mercadoria Me – Mo – Me O resultado de todo o processo é... a troca de uma mercadoria pela outra, a circulação de trabalho social materializado. Quando se atinge o resultado, o processo chega ao fim. Contrastando com isso, em um sistema capitalista, logo se poderia observar que para um segmento da sociedade – os capitalistas - o processo de troca seria muito diferente: A forma mais simples de circulação de mercadorias é Me-Mo-Me, a transformação de mercadorias em moeda e a transformação de moeda novamente em mercadoria, ou seja vender para comprar; mas (no capitalismo), juntamente com esta fórmula, encontramos outra especificamente diferente: Mo-Me-Mo, ou seja, a transformação de moeda em mercadoria, e a transformação de mercadorias novamente em moeda, ou seja, comprar para vender. A moeda que circula desta última maneira se transforma em Capital. Era óbvio - prosseguia Marx – que a circulação Mo-Me-Mo seria absurda e sem sentido, se a intenção fosse trocar, por este meio, duas somas iguais de moeda, como por exemplo, 100 libras por 100 libras. Sendo assim está claro que o plano era comprar a mercadoria, para então logo após vender mais caro. Sendo que a equação então ficaria: Mo-Me-Mo’, onde Mo’ é maior que Mo. Chegando a conclusão de esta diferença era a Mais-Valia. Mas para se chegar até ela o processo seria incrementado através da produção.

CIRCULAÇÃO DO CAPITAL E A IMPORTÂNCIA DA PRODUÇÃO

O fato de que a mais valia foi criada na esfera da produção poderia ser confirmado se examinássemos cuidadosamente a o processo de produção de mercadorias: 1º Estágio: O capitalista aparece como comprador.... seu dinheiro é transformado em mercadorias... 2º Estágio: consumo produtivo das mercadorias compradas pelo capitalista. Ele age como capitalista produtor de mercadorias; seu capital passa pelo processo da produção. O resultado é um mercadoria de valor maior do que os elementos que entraram em sua produção. 3º Estágio: O capitalista volta ao mercado como vendedor; suas mercadorias são transformadas em dinheiro... portanto a fórmula do circuito dinheiro-capital é: Mo-Me...P...Me’-Mo’, com os pontos indicando que o processo de circulação é interrompido, e Me’ e Mo’ representando Me e Mo acrescidas da Mais-valia.

TRABALHO, FORÇA DE TRABALHO E A DEFINIÇÃO DE CAPITALISMO

A força de trabalho, então, era a capacidade de trabalhar ou trabalho potencial. Quando a força de trabalho era vendida como mercadoria, seu valor de uso era, simplesmente, a execução do trabalho - a concretização do trabalho potencial. Quando o trabalho era executado, era incorporado à mercadoria, dando-lhe assim, valor. Portanto, a única fonte possível de mais-valia era a diferença entre o valor do poder de trabalho como mercadoria e valor da mercadoria produzida, que incorporava o trabalho concretizado (ou o valor de uso consumido da força de trabalho). A força de trabalho era uma mercadoria absolutamente única; seu consumo ou uso criava novo valor, que bastava não só pra substituir seu valor original, aomo também para gerar mais-valia. É obvio que a força de trabalho era um mercadoria que tinha que ser examinada com maior cuidado. A existência da força de trabalho como mercadoria dependia de duas condições essenciais. Primeiramente, A força de trabalho pode aparecer no mercado como mercadoria somente se e na medida em que seu dono - o indivíduo que tem força de trabalho - a oferecer à venda no mercado de trabalho. Entretanto terá que ser, sem qualquer impedimento, o dono de sua capacidade de trabalho, isto é de sua pessoa. Caso contrário estaria vendendo a si próprio e se transformando em escravo. A Segunda condição essencial... é... que o trabalhador, em vez de ficar na posição de vender mercadorias nas quais seu trabalho está incorporado, fica obrigado a oferecer à venda como mercadoria a própria força de trabalho, que só ele tem. Para que um homem possa vender outras mercadoria que não seja sua capacidade de trabalho, terá, obviamente, que ter os meios de produção, como matérias-primas, implementos, etc... Não se pode fazer botas sem couro. Portanto, para a transformação de dinheiro em capital, o dono do dinheiro terá que se encontrar no mercado com o trabalhador livre, livre em duplo sentido: como homem livre, pode dispor de sua força de trabalho como sua própria mercadoria e, por outro lado, não tem qualquer outra mercadoria pra vender e lhe falta tudo que é necessário para o uso de sua capacidade de trabalho. Esta era, a característica que definia o capitalismo, que o diferenciava de uma sociedade de produção simples de mercadorias. O capitalismo existia quando, em uma sociedade que produzia mercadorias, uma pequena classe de pessoas – os capitalistas - tinha monopolizado os meios de produção e onde a grande maioria dos produtores diretos – os operários – não podiam produzir independentemente, por não terem eles qualquer meio de produção. Os operários eram “livres” para fazer uma destas duas escolhas: morrer de fome ou vender sua força de trabalho como mercadoria. Assim, o capitalismo não era inevitável nem natural e eterno. Era um modo de produção específico, surgido em condições históricas específicas e que tinha uma classe que dominava, em virtude de sua capacidade expropriar mais valia dos produtores das mercadorias.

ALIENAÇÃO E MISÉRIA CRESCENTE DO PROLETARIADO

O processo de acumulação do capital criou uma classe de operários que nada mais tinha a vender além de sua força de trabalho. O que os operários produziam – o capital - passava a controlá-los. A continuação do processo de Acumulação estendeu o domínio do capital sobre um numero cada vez maior de operário e intensificou o controle do capital sobre todos os assalariados. Na opinião de Marx, todo o processo tinha efeitos extraordinariamente perniciosos sobre os operários. Não podiam tornar-se serem humanos emocional, intelectual ou esteticamente desenvolvidos. Em uma sociedade capitalista, o trabalho tornou-se mera mercadoria ser comprada, desde que pudesse ter lucro. O fato de o trabalhador poder ou não vender sua força de trabalho escapava completamente ao seu controle. Ele dependia das condições frias e totalmente impessoais do mercado. O produto do seu trabalho também estava totalmente fora da vida do trabalhador, sendo propriedade do capitalista. Marx usou o termo, Alienação para descrever a condição dos homens nesta situação. Eles se sentiam alienados ou divorciados do seu trabalho, de seu meio institucional e cultural e de seus colegas. As condições de trabalho, o objeto produzido e, na verdade, a própria possibilidade de trabalhar eram determinados pela classe numericamente pequena de capitalista e pelos seus cálculos de lucro e não por necessidade ou aspirações humanas. Os efeitos desta alienação podem ser melhor resumidos nas próprias palavras de Marx.


No sistema capitalista, todos os métodos de aumento da produtividade social do trabalho são empregados à custa do trabalhador; todos os meios para o desenvolvimento da produção se transformam em meios de dominação e de exploração dos produtores; mutilam o trabalhador, transformando-o num fragmento de homem, degradando-o ao nível de apêndice de uma máquina, destruindo todo o remanescente encantamento de seu trabalho e transformado-o em um trabalho árduo e detestável; tiram dele as potencialidades intelectuais do processo de trabalho, na medida em que a ciência é aplicada, no trabalho, a um despotismo odioso por sua mesquinharia; transformam sua vida em uma vida de trabalho e arrastam sua esposa e seus filhos para o domínio do capital idolatrado. Todos os métodos de produção da Mais-valia são, ao mesmo tempo, métodos de acumulação; toda extensão da acumulação se transforma, e novo para desenvolvimento desses métodos. Segue-se, portanto, que , na medida em que o capital é acumulado, a sorte do trabalhador, quer seu pagamento seja alto que baixo, tem que piorar. A lei estabelece uma acumulação da miséria correspondendo à acumulação de capital. A acumulação de riqueza em um pólo é, ao mesmo tempo, acumulação da miséria, da agonia do trabalhador árduo, da ignorância, da brutalidade e da degradação mental do pólo oposto. BIBLIOGRAFIA HUNT, E. K. História do Pensamento Econômico. 7ª ed. Rio de janeiro, Campus, 1989.  

O Pensamento Neoclássico (ou Marginalista)

• William Stanley Jevons (1835-1882) - inglês • Carl Menger (1840-1921)- austríaco • Léon Walras (1834-1910)- francês • Vilfredo Pareto (1848-1923)- italiano • Alfred Marshall (1842-1924)- inglês Com a consolidação da análise neoclássica, a partir de 1870, a expressão Economia Política passou a ser usada preferencialmente no contexto da análise marxista. Com o termo Economia, tem-se uma visão mais restrita do sistema econômico. As relações sociais desaparecem e a Economia é vista por seu lado técnico, histórico e abstrato. Os fenômenos econômicos são encarados como um processo mecânico, matematicamente demonstrável e determinado. Assim, supõe-se que a economia é formada por um grande número de pequenos produtores e consumidores, incapazes de influenciar isoladamente os preços e as quantidades no mercado. Os consumidores, de posse de determinada renda, adquirem bens e serviços de acordo com seus gostos, a fim de maximizarem sua utilidade total, derivada do consumo ou posse das mercadorias. Essa é uma concepção hedonista, segundo a qual o homem procura o máximo prazer, com um mínimo de esforço. Assim, enquanto na Escola Clássica e em Marx o valor é determinado pela quantidade de trabalho incorporado na mercadoria, na Escola Marginalista, o valor depende da utilidade marginal. Desse modo, quanto mais raro e útil for um produto, tanto mais ele será demandado e valorizado e tanto maior será o seu preço. Dados os preços de mercado, os produtores adquirem os fatores de produção necessários a fim de combiná-los racionalmente e produzir as quantidades que maximizarão seus lucros. Os fatores têm preços determinados por sua escassez e utilidade no processo produtivo. Não há mais conflito entre as classes sociais na distribuição do produto, mas harmonia entre os agentes. No pensamento marginalista, cada proprietário dos recursos produtivos é remunerado por sua produtividade marginal, não havendo motivo, portanto, para qualquer conflito social. A concorrência entre os agentes econômicos regula a oferta e a demanda de bens e fatores. Supõe-se que exista perfeita flexibilidade de preços e salários, de sorte que se estabelece automaticamente o equilíbrio dos mercados, levando em conta cada indivíduo e a economia em seu conjunto ao máximo bem-estar social. A essência do pensamento marginalista pode ser sintetizada nos seguintes pontos: 1. raciocínio na margem: a decisão de produzir ou consumir vai depender do custo ou benefício proporcionado pela última unidade; 2. abordagem microeconômica: o indivíduo e a firma estão no centro da análise, havendo no mercado um único bem homogêneo e um preço de equilíbrio; 3. método abstrato-dedutivo: abstração teórica, argumentação lógica e conclusão; 4. concorrência pura nos mercados: sendo o monopólio uma exceção; muitos vendedores e compradores concorrem no mercado por bens e serviços; as firmas são pequenas e não conseguem influenciar o preço de mercado; 5. ênfase na demanda: a demanda é o elemento crucial para determinar os preços, ao contrário dos clássicos que enfocavam a oferta, ou custo de produção; 6. teoria da utilidade: a utilidade que as pessoas têm no consumo dos bens, determinada por seus gostos, influencia as quantidades demandadas de cada bem e, então, seus preços. Há uma ênfase em aspectos psicológicos, com a consideração da abordagem hedonista de prazer (satisfação) e sofrimento (custos); 7. teoria do equilíbrio: as variáveis econômicas interagem e o sistema manifesta uma tendência ao equilíbrio pelas livres forças de mercado; 8. direitos de propriedade: cada proprietário recebe pela posse de um fator de produção; 9. racionalidade: as firmas e consumidores maximizam lucro ou satisfação e não agem por impulso, capricho ou por objetivos humanitários; 10. laissez-faire: ou liberdade de mercado; toda e qualquer interferência nos automatismos do mercado gera custos e reduz o bem-estar social. Em meados dos século XX, a Economia passou a abarcar dois grandes enfoques: (a) a Microeconomia, que trata da firma e da indústria em particular, do preço e do mercado de um bem ou serviço, bem como do indivíduo, como consumidor que detém poder de compra; e (b) a Macroeconomia, que se ocupa dos agregados, como a inflação, a taxa de câmbio, a renda nacional, a poupança, o investimento, a função consumo, o balanço de pagamentos, etc.

O Pensamento Keynesiano

Em sua obra, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, (1936), John Maynard Keynes (1883-1946) refutou a idéia de equilíbrio com pleno emprego de fatores, pela rigidez de salários e preços. Segundo ele, há desemprego involuntário e em função disso, a economia opera com capacidade ociosa. Para elevar os níveis de emprego e de renda, maximizando se o bem-estar social, torna-se necessário estimular a propensão a investir dos empresários. O Estado atua nesse sentido, realizando políticas monetárias e fiscais. Desse modo, ele realiza gastos e influencia as expectativas empresariais e o próprio nível de investimentos. Através dos efeitos de multiplicação e de aceleração, expande-se o nível de renda e de emprego. Keynes explicou que o valor dos bens e serviços produzidos pelas empresas tem uma contrapartida de renda, que são os salários, juros, aluguéis, impostos e lucros; que essas rendas, encaradas como custos pelas empresas, na verdade vão ser gastas em novos bens e serviços. O mesmo raciocínio vale para a economia em seu conjunto. Se a população não pode gastar, por não ter um emprego, a economia estará impossibilitada de produzir. Esse é o fluxo circular de produto e renda, cujo funcionamento não é automático e possui vazamentos: parte do dinheiro não é gasto e permanece entesourado (em casa ou nos bancos). Desse modo, a demanda efetiva tende a ficar aquém das possibilidades de produção da economia. (Keynes identificou outros vazamentos que são as importações e o pagamento de impostos). Para que esses vazamentos sejam compensados, em caso de recessão (demanda efetiva < total de produção), é preciso que: a) os bancos elevem seus empréstimos para consumo e investimento; b) as exportações sejam estimuladas; c) o Governo aumente seus gastos. Maior fluxo de renda estimulará a demanda agregada, retomando o caminho da prosperidade. No entanto, é necessário que os gastos com investimento (I) sejam iguais às poupanças (S) realizadas em cada período. Como as rendas aumentam com a prosperidade geral da economia e o consumo não cresce na mesma proporção, haverá uma tendência de (S) expandir-se de um modo mais acelerado. Assim, o (I) precisa crescer cada vez mais. Sendo S > I, o Governo precisa aumentar seus gastos para compensar o excesso de poupança. Keynes preferia que os gastos do Governo fossem investimentos em áreas sociais, como escolas, estradas e hospitais, que acabariam beneficiando também o setor produtivo. Os princípios fundamentais da economia keynesiana podem ser resumidosnos seguintes pontos; 1) Inter-relação entre a renda nacional e os níveis de emprego. Os determinantes diretos da renda e do emprego são os gastos com consumo e investimento. O gasto público constitui uma adição ao gasto total. A situação de pleno emprego é só um caso especial; o caso geral e característico é o de equilíbrio com desemprego. Quando o gasto em consumo e investimento é insuficiente para manter o pleno emprego, o Estado deve estar disposto a aumentar o fluxo de renda por meio de gastos financeiros por déficit orçamentário. 2) Determinantes da renda e do emprego, ou os determinantes do gasto em 3) consumo e investimento. Keynes supunha que o consumo está determinado pelo volume de renda; isto é, para cada nível de renda, o gasto em consumo é uma proporção dada da renda, e esta proporção cai quando a renda aumenta. O nível de consumo varia com a renda, enquanto a renda varia, por sua vez, porque os investimentos ou o gasto público variam e isto ocorre de uma forma multiplicativa. 4) Keynes dizia que o gasto com investimento era determinado pela taxa de juros e pela eficácia marginal do capital (ou taxa de retorno esperada sobre o custo de novos investimentos). A eficácia marginal do capital depende da expectativa diante dos lucros futuros e do preço de oferta dos ativos de capital. A taxa de juros era definida como uma recompensa pelo sacrifício da liquidez (ou o desejo de manter a riqueza em forma de ativos financeiros líquidos) e da quantidade de dinheiro em circulação mais depósitos. (Em resumo, as três influências psicológicas sobre a renda e o emprego são: a propensão ao consumo, o desejo por ativos líquidos e a taxa de retorno esperada dos novos investimentos. Para Keynes o sistema de livre mercado (ou laissez-faire) ficou antiquado e que o Estado deve atuar ativamente para fomentar o pleno emprego, forçando a taxa de juros para baixo (e assim estimular o investimento); e redistribuindo a renda com o objetivo de estimular os gastos de consumo. Para Keynes o Estado deve atuar intensamente para que se possa estabilizar a economia no nível de pleno emprego. Saiba mais....  Sobre a vida e obra dos principais economista em : http://www.pensamentoeconomico.ecn.br http://www.cofecon.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=160&Itemid=110