domingo, 7 de abril de 2013


GEOGRAFIA E TURISMO - ALGUMAS PONDERAÇÕES

Elaborada por Leon Alves Corrêa



Esta Palestra foi elaborada especialmente para a exposição do conteúdo da disciplina Geografia e Turismo, do 4º ano do curso de Geografia da UEG-Pires do Rio, a mesma realizará uma análise dos rebatimentos do turismo na produção do espaço. Parte-se da teoria espacial de Henri Lefebvre para elucidar a compreensão do conceito de produção do espaço, conceito este que rompe com a noção de espaço como algo estático, imutável, palco da sociedade. Após esta aproximação teórica, situaremos o turismo na produção do espaço, enquanto atividade ligada à ideia moderna de busca pelo novo, de importância crescente na economia capitalista e de intensos rebatimentos sobre o mesmo.



Diante da crescente importância econômica do turismo e da intensificação dos impactos dessa atividade sobre o espaço, a Geografia tem se dedicado nos últimos anos ao estudo das dinâmicas associadas à inserção e ao desenvolvimento desta atividade nos mais diferentes lugares.



O turismo traz consigo dinâmicas características da modernidade, embaladas na busca pelo novo, num eterno vir-a-ser. Isso incide diretamente sobre a produção do espaço. Um espaço agora produzido pelo e para o consumo. Espaço valorizado, não apenas por novos usos, mas por seu valor de troca.




Esse espaço não é visto como um passivo, mas como lugar da reprodução das relações de produção. (LEFEBVRE, 2008, p. 08).
O autor ainda completa "essas relações (sociais) de produção que dão sentido ao espaço; elas o produzem ao mesmo passo em que também são produzidas por este"
A partir disso, Lefebvre apresenta o espaço em três dimensões:
o percebido, o concebido e o vivido
O espaço percebido (L’espace perçu) é o espaço empírico, material, que remete a experiência direta, prático-sensível.
O espaço concebido (L’espace conçu) refere-se às representações do espaço, ao espaço planejado (da tecnocracia, dos urbanistas, por exemplo).
Por sua vez, o espaço vivido (L’espace evécu) é o espaço da prática cotidiana, espaço das diferenças e das possibilidades.
Lefebvre (1977) destaca que os espaços de lazer “constituem objeto de especulações gigantescas, mal controladas e frequentemente auxiliadas pelo Estado (construtor de estradas e comunicações, aval direto ou indireto das operações financeiras, etc.)”.
O turismo figura como prática intimamente ligada a este processo de consumo do espaço. À medida que esta atividade e as demais atividades ligadas ao lazer consomem paisagens e lugares, estas têm o próprio espaço como elemento de consumo direto.



O turismo hoje é uma área de grande interesse da produção acadêmica geografica, muito embora enquadra-se como um termo de novíssima acepção, sendo assim um dos ícones dessa nova tendência na Geografia é o professor estadunidense, Mark Gottdiener.
[...] o espaço tem a propriedade de ser materializado por um processo social específico que reage a si mesmo e a esse processo. É, portanto, ao mesmo tempo objeto material ou produto, o meio de relações sociais, e o reprodutor de objetos materiais e relações sociais (GOTTDIENER, 1997, p. 133).
Em outras palavras, Gottdiener (1997, p. 133) explica o exposto ao afirmar que o espaço “recria continuamente relações sociais ou ajuda a reproduzi-las; além disso, elas podem ser as mesmas relações que ajudaram a produzi-lo”.

Em âmbito nacional a escola de Geografia da USP, foi pioneira a tratar do assunto, e na atualidade possui os autores mais respeitados quando se trata d "Geografia Turismo". Um dos grandes exemplos desses autores, é o professor José Vicente de Andrade. Para Andrade (2004) qualquer análise a respeito do turismo deve ter como pressuposto que “o homem, o espaço e o tempo constituem os três pré-requisitos para qualquer reflexão equilibrada a respeito do fenômeno”.

Têm sido elaboradas análises acerca do fenômeno de expansão constante e inserção da atividade em vários espaços pelo mundo, muitas das quais discutem uma conceituação para o turismo

Segundo a Organização Mundial de Turismo – OMT, o turismo é “uma modalidade de deslocamento espacial que envolve a utilização de algum meio de transporte e ao menos um pernoite no destino.”


A partir da definição acima se estabelece a segmentação do turismo (religioso, de eventos, de aventura, exótico, de negócios, de saúde, etc.). Ressalta-se aqui que a definição da OMT sugere que viagem e turismo são a mesma coisa.

Andrade (2004, p. 38), conceitua o turismo como um complexo de atividades e serviços, tudo relacionado “aos deslocamentos, transportes, alojamentos, alimentação, circulação de produtos típicos, atividades relacionadas aos movimentos culturais, visitas, lazer e entretenimento”.

Além dos incentivos dados a partir das políticas públicas voltadas ao setor, a aplicação do capital de grandes grupos de empresários, com forte presença de grupos internacionais, vem mantendo crescente a participação do turismo na economia capitalista.



A professora ainda destaca que é a única prática social que consome elementarmente espaço. A autora trata ainda do que podemos chamar de lugar turístico,atrativo turístico e paisagem turística.


Rodrigues (2001) reforça que o espaço no turismo é produzido a partir da racionalidade moderna, guiando a ocupação, a distribuição de infraestruturas (rodovias, energia elétrica, cidades) e produção (serviços, produtos industrializados, produtos agropecuários, extração), maximizando resultados e minimizando esforços, passa a ser formado por áreas especializadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa participação crescente do turismo na produção do espaço ainda suscitará muito debate na Geografia. Antes de defender a atividade como salvadora dos lugares ou criminalizá-la como destruidora da natureza, culturas e tradições, a realização de análises centradas na produção do espaço pode conferir um importante caminho para uma interpretação consistente dos processos desencadeados a partir do desenvolvimento desta atividade.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, José Vicente de. Turismo: fundamentos e dimensões. 8. ed. Ática, 2004.
CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Introdução à geografia do turismo. 2. ed. São Paulo:Roca, 2003.
GARCIA, Rita Maria de Paula. Produção do espaço pelo lazer e turismo. In: Revista
Eletrônica da Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Três Lagoas. Três Lagoas MS, V 1 – n.º 5 - ano 4, Maio de 2007. p. 113-126.
GOTTDIENER, Mark. A produção social do espaço urbano. 2. Ed. São Paulo: Edusp,
1997.
LEFEBVRE, Henri. Espaço e Política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008
RODRIGUES, Adyr Balastreri. Turismo e Espaço: rumo a um conhecimento
transdisciplinar. 3. Ed. São Paulo: Hucitec, 2001.















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